Banner Portal
Língua de sinais, gestos e cores
PDF

Palavras-chave

Tipologia lexical das cores
Língua de sinais Ka'apor
Gestos

Como Citar

SILVA , Gustavo de Godoy e. Língua de sinais, gestos e cores: o caso ka’apor. LIAMES: Línguas Indígenas Americanas, Campinas, SP, v. 22, n. 00, p. e022012, 2022. DOI: 10.20396/liames.v22i00.8667939. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/liames/article/view/8667939. Acesso em: 19 abr. 2024.

Resumo

A língua de sinais ka'apor não tem nenhuma palavra que denote uma cor específica. Somando-se a esse fato, aparentemente curioso, há outro ainda mais revelador e ao que parece contraditório: há um sinal que designa a ideia genérica de cor. Isso não é tudo. O sinal cor é também usado na gesticulação que acompanha a língua ka'apor falada, a qual não apresenta um item lexical que designe o conceito de cor. Portanto, o ka'apor falado apresenta um gesto para a ideia genérica de cor e itens lexicais da fala que são termos para cores específicas. Partindo desses dados, retomo uma discussão geral sobre a semântica das cores específicas, argumentando que esse não é um domínio fundamental das línguas humanas (Wierzbicka 2008). Além disso, argumento que a modalidade gestual, embora seja um canal visual, é rebelde à referência de cores: as línguas de sinais, por isso, não se adequam à ideia de termos básicos para cores, tal como formulada por Berlin e Kay (1969). Cito aqui o caso da Libras, da língua de sinais do povo yolŋu e da língua de sinais de Top Hill. Por fim, observo que se a língua de sinais ka'apor ignora os termos específicos para cores, o pensamento mítico ka'apor, conhecido por surdos e ouvintes, conceptualiza o excesso de cores como algo maléfico – fato este já demonstrado pela análise comparativa de mitos (Lévi-Strauss 1964). O presente artigo é uma revisão e continuação do trabalho de Ferreira e Siqueira (1985) que compararam a língua de sinais do povo ka’apor com a Libras.

https://doi.org/10.20396/liames.v22i00.8667939
PDF

Referências

Aniz, Vitória; Godoy, Gustavo (2020). Documentation and description of Ka’apor Sign Language. London: SOAS University of London, Endangered Languages Archive. http://hdl.handle.net/2196/31e54111-bf0d-4477-8b37-b845ce76d837

Adone, Dany; Bauer, Anastasia; Cumberbatch, Keren; Maypilama, Elaine L. (2012). Colour sign in two indigenous sign languages. In Ulrike Zeshan; Connie de Vos (eds.). Sign languages in village communities: Anthropological and linguistic insights, pp. 53–86.

Boston/Berlin; Nijmegen: Walter de Gruyter; Ishara Press.

Berlin, Brent; Kay, Paul (1969). Basic color terms. Berkeley: University of California Press.

Ferreira, Lucinda; Siqueira, Elizabeth Angélica Santos (1985 [1988]). Termos básicos para cores em línguas dos sinais. Anais do X Encontro Nacional de Linguística. pp. 508-520. Rio de Janeiro.

Ferreira, Lucinda (s/d). At least two sign languages in Brazil: one among Urubu-Kaapor Indians and another in São Paulo.

https://amerindias.github.io/referencias/bri84twosignlanguages.pdf

Ferreira, Lucinda (1983 [1985]). A comparative study of signs for Time and Space in Sao Paolo and Urubu-Kaapor sign language. SLR 83: Proceedings of the 3rd International Symposium on Sign Language Research. pp. 22–26 Silver Spring, MD; Roma: Linstok Press; Istituto di psicologia, CNR.

Ferreira, Lucinda (1984). Similarities and differences in two Brazilian sign languages. Sign Languages Studies (42): 45-56. https://www.jstor.org/stable/26203575

Ferreira, Lucinda (1995 [2010]). Termos básicos para cores em línguas de sinais (Capítulo 8). Por uma gramática de língua de sinais, pp. 159–169. Rio de Janeiro: Tempo brasileiro.

Godoy, Gustavo (2020a). Os Ka'apor, os gestos e os sinais (Tese doutorado em Antropologia Social). Rio de Janeiro: PPGAS, UFRJ.

Godoy, Gustavo (2020b). É o tempo dos gestos nos sinais. Linguíʃtica 16(3): 60-102

Kay, Paul; McDaniel, Chad K. (1978). The linguistic significance of the meanings of basic color terms. Language 54(3): 610-646. 10.1353/lan.1978.0035

Lakoff, George; Johnson, Mark (1980). The metaphorical structure of the human conceptual system. Cognitive Science 4(2): 195-208.mhttps://doi.org/10.1016/S0364-0213(80)80017-6

Levinson, Stephen C. (2000). Yélî Dnye and the theory of basic color terms. Journal of Linguistic Anthropology 10(1): 3-55. https://doi.org/10.1525/jlin.2000.10.1.3

Lévi-Strauss, Claude (1964). Le cru et le cuit. Paris: Plon.

Kakumasu, James Y. (1968). Urubu-Kaapor Sign Language. International Journal of American Linguistics 34(4): 275–281. https://doi.org/10.1086/465027

Morphy, Howard (2006). From dull to brilliant: the aesthetics of spiritual power among the Yolŋu. In Morgan Perkins; Howard Morphy (eds.), Anthropology of art: a reader, pp. 302–320). Oxford: Blackwell Publishing.

Ribeiro, Darcy (1996). Diários Índios: os Urubus-Kaapor. São Paulo: Companhia das Letras.

Talmy, Leonard (2000). Toward a cognitive semantics – Volume I: Concept structuring systems. Cambridge, Massachusetts and London, England: The MIT Press.

Wierzbicka, Anna (1986). What’s in a noun? (Or: how do nouns differ in meaning from adjectives?). Studies in Language 10(2): 353–389. https://doi.org/10.1075/sl.10.2.05wie

Wierzbicka, Anna (1988). The semantics of grammar. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company.

Wierzbicka, Anna (1992). Semantics, culture and cognition: Universal human concepts in culture-specific configurations. New York; Oxford: Oxford University Press.

Wierzbicka, Anna (2006). The semantics of colour: A new paradigm. In Carole P. Biggam; Christian J. Kay (eds.), Progress in Colour Studies, vol. I: Language and Culture, pp. 1-24. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company.

Wierzbicka, Anna (2008). Why there are no “colour universals” in language and thought. The Journal of the Royal Anthropological Institute 14(2): 407–425. https://doi.org/10.1111/j.1467-9655.2008.00509.x

Creative Commons License

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.

Copyright (c) 2022 Gustavo de Godoy e Silva

Downloads

Não há dados estatísticos.