Banner Portal
Arqueologia e a guerrilha do Araguaia ou a materialidade contra a não narrativa
PDF

Palavras-chave

Arqueologia do Passado Contemporâneo. Arqueologia da Repressão e da Resistência. Guerrilha do Araguaia. Narrativa

Como Citar

SOUZA, Rafael de Abreu e. Arqueologia e a guerrilha do Araguaia ou a materialidade contra a não narrativa. Revista Arqueologia Pública, Campinas, SP, v. 8, n. 2[10], p. 213–230, 2015. DOI: 10.20396/rap.v8i2.8635658. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rap/article/view/8635658. Acesso em: 19 abr. 2024.

Resumo

Neste artigo, utilizo o exemplo das buscas pelos desaparecidos na Guerrilha do Araguaia para levantar questões, mais do que fechá-las, sobre a potencialidade da arqueologia em contextos associados à repressão orquestrada pela ditadura militar brasileira. Parto do pressuposto de que a arqueologia, reivindicando a si o estudo da materialidade, opõese diametralmente à não narrativa perpetrada pelo ostensivo silêncio oficial sobre os eventos ocorridos. Enquanto ferramenta política, dialógica a construção de memórias materiais, a Arqueologia da Repressão e da Resistência é uma autoarqueologia, plural, do crível e do vivível.
https://doi.org/10.20396/rap.v8i2.8635658
PDF

Referências

ARAÚJO, A. D. Identidade e subjetividade no discurso acadêmico: explorando práticas discursivas. Fortaleza: Ed. UECE/UFC, 2003.

ARENDT, H. Compreender: formação, exílio e totalitarismo (ensaios). Belo Horizonte: Ufmg, 2008.

ATALAY, S. “Indigenous Archaeology as Decolonizing Practice”. The American Indian Quartlerly, V. 30, N. 3-4, p. 280-310, 2006.

BARAYBAR, J. P.; BLACKWELL, R. Where Are They? Missing, Forensics And Memory. No prelo.

BARTHES, R. Análise estrutural da narrativa. Petrópolis: Vozes, 2008.

BAUER, C. Avenida João Pessoa, 2050 - 3o Andar: terrorismo de estado e ação de polícia política do departamento de ordem política social do Rio Grande do Sul (1964-1982). Dissertação (mestrado), UFRG, 2006.

BAUER, C. Um estudo comparativo das práticas de desaparecimento nas ditaduras civil-militares argentina e brasileira e a elaboração de políticas de memória em ambos os países. Tese (doutorado), UFRGS, 2011.

BEZERRA, M. A. “Bicho de Nove Cabeças: Os cursos de graduação e a formação de arqueólogos no Brasil”. Revista de Arqueologia, v. 21, n. 2, 2008.

BEZERRA, M. “Os sentidos contemporâneos das coisas do passado: reflexões a partir da Amazônia”. Revista de Arqueologia Pública, n. 7, pp. 107-122, 2013.

BHABHA, H. O local da cultural. Belo Horizonte: UFMG, 2003.

BOEHS, A. E. “A narrativa no mundo dos que cuidam e são cuidados”. Revista Latino-mericana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 8, n. 3, p. 5-10, julho 2000.

BOSI, A. Dialética da colonização. São Paulo: Cia das Letras, 1992.

BROCKMEIER, J. “Remembering and Forgetting: Narrative as Cultural Memory”. Culture & Psychology, Março 2002 8: 15-43, 2002.

BUCHLI, V.; LUCAS, G. (eds.) Archaeologies of the contemporary past. Londres: Routledge, 2001.

CALDARELLI, Solange B. A arqueologia como profissão. In: MENDONÇA DE SOUZA, S. M. F. (org.) Anais do IX Congresso de Arqueologia Brasileira [CD ROM], [Rio de Janeiro], SAB, agosto/2000. CAMPOS FILHO, R. A Guerrilha do Araguaia: a esquerda em armas. São Paulo: Anita Garibaldi, 2003.

CARR, G.; JASINSKI, M. Sites of Memory, “Sites of Oblivion: The archaeology of twentieth century conflict” in Europe. BASSANELLI, M.; POSTGLIONE, G. (org.) Renacting the Past: Museography for Conflict Archaeology, Siracuse: Lettera Ventidue, 2013.

CARVALHO, A. V.; FUNARI, P. P. A. “Arqueologia forense como arqueologia pública: estado da arte e perspectivas para o futuro no Brasil”. CARVALHO, A. V.; FUNARI, P. P. A.; PRADO, I. S.; SILVA, S. F. M. (ed.) Arqueologia, democracia e direito, p. 11-29, Erichim: Habilis, 2009.

CAZDYN, E. Semiology of a Disaster or, Toward a Non-Moralizing Materialism. Scapegoat: Architecture, Landscape, Political Economy, Issue 02, p. 32-34, 2013.

CHAKRABARTY, D. Provincializing Europe. Princeton, 2000.

COLWELL-CHANTHAPHON, C. Myth of the Anasazi: Archaeological Language, Collaborative Communities, and the Contested Past. Public archaeology, v. 8, n. 2–3, 191–207, 2009.

DE CERTEAU, M. Cultura no plural. Petrópolis: Vozes, 1994.

EQUIPO ARGENTINA DE ANTROPOLOGÍA FORENSE. 1996-97 Biannual Report, p. 43-49, 1996-97.

EQUIPO ARGENTINA DE ANTROPOLOGÍA FORENSE. EAAF 2006 Annual Report, p. 58-61, 2006.

FERREIRA, L. M. “Quieta non movere: arqueologia comunitária e patrimônio cultural”.

FUNARI, P. P. A.; CARVALHO, A. Patrimônio cultural, diversidade e comunidades. Campinas: Unicamp/Primeira Versão, p. 17-38, 2011.

FIORIN, J. L. “A pessoa desdobrada”. Alfa, São Paulo, 39: 23-44, 1995.

FONDEBRIDER, L. “Arqueologia e antropologia forense: um breve balanço”.

FUNARI, P. P. A.; ZARANKIN, A.; REIS, J. A. (org.) Arqueologia da Repressão e da Resistência. América Latina na era das ditaduras (décadas de 1960-1980). São Paulo: Annablume/FAPESP, pp. 151-160, 2008.

FONDEBRIDER, L. “Reflections on the scientific documentation of human rights violations”. IRRC, v. 84, n. 848, pp. 889-891, 2005.

FREIDONS, E. “Para uma análise comparada das profissões: a institucionalização do discurso e do conhecimento formais”. Anais da Anpocs, Caxambu, 1995.

FUNARI, P. P. A. “Desaparecimento e emergência dos grupos subordinados na arqueologia brasileira”. Horizontes Antropológicos, v.8, n.18, pp. 131-153, 2002.

GASSIOT, E. et al. “The Archaeology of the Spanish Civil War: Recovering Memory and Historical Justice”. In: HAMILAKIS, Y.; DUKE, Ph. (eds.) Archaeology and Capitalism. From Ethics to Politics. Wallnut Creek: Left Coast Press, pp. 84-102, 2007.

GASSIOT, E. “Non son solo huesos. El rol de la arqueología forense y la lucha contra la impunidad”. Entramundos - Diálogo interdisciplinar para la reconstrucción de la memória histórica. Barcelona: Asociación Argentina contra la Impunidad, pp. 106-121, 2012.

GNECCO, C. “Caminos de la Arqueología: de la violencia epistémica a la relacionalidad”. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, v. 4, n. 1, p. 15-26, jan.- abr. 2009

GONZALEZ-RUIBAL, A. “Arqueología de la Guerra Civil Española”. Complutum, v. 19, n. 2, p. 11-20, 2008.

GONZALEZ-RUIBAL, A. et alii. “Arqueología del fascismo en Etiopía (1936-1941)”. EBRE 38, pp. 233-254, 2010.

GONZALEZ-RUIBAL, A. “The past is tomorrow. Towards and Archaeology of the vanishing past”. Norwegian Archaeological Review, v. 39, n. 2, p. 110-125, 2006.

GONZÁLEZ-RUIBAL, A.; HERNANDO, A. “Genealogies of Destruction: an archaeology of contemporary past in the Amazon Forest”. Archeologies, v. 6, issue 1, p. 5-28, 2010.

GOSDEN, C. Archaeology and colonialism. Cambridge: Cambridge University Press, 2004.

GOSDEN, C. “What do object want?” Journal of Archaeological Method and Theory, v. 12, no 3, pp. 193-211, 2005.

GRAVE-BROWN, P. “Touching from a Distance: alienation, abjection, estrangement and Archaeology”. Norwegian Archaeological Review, v. 44, n. 2, 2011.

HAAS, Peter. “Introduction: Epistemic Communities and International Policy Coordination”. International Organization, v.46, no.1, p.1-35, 1992.

HABER, A. “Arqueologia, Fronteira, Indisciplina”. Habitus, v. 9, n. 1, 2009.

HARRISON, R.; SCHOFIELD, J. “Archaeo-ethnography, auto-archaeology: introducing archaeologies of the contemporary past”. Archaeologies, v. 5, n. 2, p. 185-209, 2009.

HERING, F. A. . M. I. “Rostovtzeff e uma Arqueologia Nacionalista do Sul da Rússia - ou dos usos ideológicos da narrativa de Heródoto”. LPH (UFOP), v. 11, p. 17-32, 2002.

HODDER, I. “Archaeological Reflexivity and the ‘Local’ Voice”. Anthropological Quarterly, v. 76, n. 1, pp. 55-69, 2003.

HOLLOWELL, J.; NICHOLAS, G. “Using Ethnographic Methods to Articulate Community-Based Conceptions of Cultural Heritage Management”. Public Archaeology: archaeological ethnographies, Vol. 8 No. 2–3, pp. 141–160, 2009.

JOYCE, R. (org.) The Languages of Archaeology: Dialogue, Narrative, and KOHL, P. L. “Nationalism and Archaeology: on the Constructions of Nations and the Reconstructions of the Remote Past”. Annual Review of Anthropology, v. 27, p. 223-246, 1998.

KOJAN, D.; ANGELO, D. “Dominant narratives, social violence and the practice of Bolivian archaeology”. Journal of Social Archaeology, v. 5, n. 3, pp. 383-408, 2005.

KOPYTOFF, I. “A biografia cultura das coisas: a mercantilização como processo”.

APPADURAI, A. (ed.) A vida social das coisas. Niterói: Eduff, pp. 81-121, 2008.

LANGDON, E. J. L. “Shamanism, narratives and structuring of illness”. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, v. 3, n. 6, p. 187-214, out. 1997.

LIPE, W. D. “Public benefits of Archaeological Research”. LITTLE, B. (org.) Public benefits of Archaeology. Florida: University Press of Florida, p. 20-28, 2002.

MACIEL, L. Guerrilha do Araguaia: relato de um combatente. Salto: Schoba, 2011.

MAGUIRE, P. F.; CARVALHO, A. V. “Campos de concentração na Guerra Civil Espanhola: novas possibilidades para a arqueologia da repressão”. LINO, J. T.; FUNARI, P. P. A. (org.) Arqueologia da Guerra e do Conflito. Erixim: Habilis, p. 231-254, 2013.

MARTINS FILHO, J. R. A guerra da memória: a ditadura militar nos depoimentos de militantes e militares. Texto preparado para o congresso da Associação de Estudos Latino-americanos, Dallas, Texas, pp. 27-29, de março de 2003.

McGUIRE, R. “Archaeology as political action. Class Confrontations in Archaeology”, Historical Archaeology 33, n. 1, 1999.

McMANAMON, F. “Archaeological messagens and messengers”. Public Archaeology, 1(1), 5-20, 2000.

MESKELL, L. “Human Rights and Heritage Ethics. Anthropological Quarterly”, Vol. 83, No. 4, pp. 839–860, 1998.

MONTEIRO, D. T. Os errantes do novo século. Livraria duas cidades, 1974.

MULLINS, P. Archaeologies of Prosaic Materiality and Traumatic Heritage. 2012. Disponível em http://paulmullins.wordpress.com/tag/terrorscapes/. Acessado em 16 03 2014.

NOSSA, L. Mata! O Major Curió e a Guerrilha do Araguaia. São Paulo: Cia das Letras, 2012.

OLAND, M.; HART, S.; FRINK, L. (ed.) Decolonizing Indigenous Histories: Exploring Prehistoric/Colonial Transitions in Archaeology. Tucson: University of Arizona Press, 2012.

OLSEN, B. “Material Culture after Text: Re-Membering Things”. Norwegian Archaeological Review, v. 36, n. 2, p. 87-104, 2003.

PEIXOTO, R. C. D. “Memória social da Guerrilha do Araguaia e da guerra que veio depois”. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Cienc. Hum., Belém, v. 6, n. 3, p. 479-499, set.-dez. 2011.

PEIXOTO, R. C. D. “Memória, verdade e justiça: reconhecendo abusos do passado e do presente no Bico do Papagaio”. Novos Cadernos NAEA, v. 16, n. 2, p. 225-253, 2013.

PLUCIENNIK, M. “Archaeological Narratives and Other Ways of Telling”. Current Anthropology Vol. 40, No. 5, pp. 653-678, (December/1999).

POLITIS, G. G. “The Theoretical Landscape and the Methodological Development of Archaeology in Latin America”. American Antiquity, V. 68, N. 2, pp. 245-272, 2003.

REÁTEGUI, Félix (org.). Justiça de Transição: Manual para a América Latina. Brasília: Comissão de Anistia, Ministério da Justiça, 2011.

RIBEIRO, D. Entrevista a Antônio Machado de Carvalho. Revista Presença Pedagógica, março/abril 1996.

RICOEUR, P. A memória, a história e o esquecimento, Paris, Éd. Du Seuil, 2000.

ROWLANDS, M. “The Politics of identity in Archaeology”. BOND, G. C.; GILLIAM, A. (org.) Social Construction of the Past: Representation as Power. Londres: Routledge, 1994.

SADER, R. “Lutas e imaginário camponês”. Tempo Social, v. 1, 1990.

SAID, E. Orientalismo. São Paulo: Cia das Letras, 2003.

SALERNO, M. “A construção da categoria ‘subversivo’ e os processo de remodelação de subjetividade através do corpo e do vestido (Argentina, 1976-1983)”. CARVALHO, A. V.; FUNARI, P. P. A.; PRADO, I. S.; SILVA, S. F. M. (ed.) Arqueologia, democracia e direito. Erichim: Habilis, pp. 103-140, 2009.

SCHINCARIOL, R. L. F. C. “A Comissão da Verdade no Brasil”. In: IV Seminario Politicas de la Memoria: Ampliación del campo de los derechos humanos. Memórias y Perspectivas, Buenos Aires. Memórias y Perspectivas, 2011.

SHANKS, M. “The life of an artifact”. Fennoscandia Archaeologica, n. 15, p. 15-42, 1997.

SILVA FILHO, J. M. et. al. (org.) Justiça de transição nas Américas. Belo Horizonte: Fórum, 2013.

SILVA, S. F. S. M. et. al. “Estudo de problemas preliminares vinculados à existência da arqueologia forense e antropologia forense no Brasil”. Clio Arqueológica, v. 27, n. 1, 2012.

SOUSA, D. M. Lágrimas e lutas: a reconstrução do mundo de familiares de desaparecidos políticos do Araguaia. Tese (doutorado), UFSC, 2011.

STUDART, Hugo. A Lei da Selva – Estratégias, Imaginário e Discurso dos Militares sobre a Guerrilha do Araguaia. São Paulo: Geração, 2006.

TEITEL, R. “Transitional Justice Genealogy”. Harvard Human Rights Journal, v. 16, p. 69‐94, 2003.

TELES, J. A. “A abertura dos arquivos da ditadura militar e a luta dos familiares de mortos e desaparecidos políticos no Brasil”. Anais Direito, Censura e Imprensa após a vigência da Constituição Federal de 1988, 2005.

TELES, M. A. A.; LISBOA, S. K. “A vala de Perus: um marco histórico na busca da verdade e da justiça!” Vala clandestina de Perus. São Paulo: Instituto Macuco, p. 51-102, 2012.

TRIGGER, B. “Alternative archaeologies: nationalist, colonialist, imperialist”. Man, v. 19, n. 3, p. 355-370, 1984.

VELHO, O. Besta-fera: recriação do mundo : ensaios críticos de antropologia. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1995.

VOSS, Barbara L. “Matter out of time: the paradox of the ‘Contemporary Past’”. Archaeologies, p. 181-192, 2010.

WEISSEL, M. “A needle in a haystack: Buenos Aires Historical Archaeology”. SAA Archaeological Record, 3(4), 28-30, 2003.

WHITE, R. Meta-história. São Paulo: Edusp, 1995.

WITHMORE, C. L. “Symmetrical Archaeology: Excerpts of a Manifesto”. World Archaeology, vol. 39, No. 4, pp.546-562, 2007.

ZARANKIN, A.; FUNARI, P. P. A. “Eternal Sunshine of the Spotless Mind: Archaeology and Construction of Memory of Military Repression in South America (1960-1980)”. Archaeologies, v. 4, p. 310-327, 2008.

ZARANKIN, A.; FUNARI, P. P. A. “Brilho Eterno de uma mente sem Lembranças: arqueologia e construção da memória da repressão na América do Sul (1960-1980)”.

CARVALHO, A. V. et alii. (org.) Arqueologia, direito e democracia. Erechim: Habilis, p. 31-50, 2009.

ZARANKIN, A.; NIRO, C. “A materialização do sadismo: a arqueologia da arquitetura dos centros clandestinos de detenção da ditadura militar argentina (1976-1983)”. Revista Internacional de Direito e Cidadania, n. 6, p. 17-32, 2010.

ZARANKIN, A.; SALERNO, M. “Después de la tormenta. Arqueología de la represión en América Latina”. Complutum, v. 19, 2: 21-32, 2008.

ZIMMERMAN, L. “Liberating Archaeology: Liberation Archaeologies and WAC”. Archaeologies, volume 2 Number 1, p. 87-98, 2006.

Revista Arqueologia Pública utiliza a licença do Creative Commons (CC), preservando assim, a integridade dos artigos em ambiente de acesso aberto.

Downloads

Não há dados estatísticos.