Resumo
É a partir de Montaigne que o ensaísmo se constitui como forma privilegiada de reflexão e como o veículo mais apto a dar voz às experiências do homem na modernidade. Este artigo explora alguns aspectos da relação entre os Ensaios de Montaigne e a nova dimensão que o ensaísmo assume no contexto do século XX, e que atinge um de seus momentos mais fecundos no romance O Homem sem Qualidades, de Robert Musil. Para tanto, começamos abordando os Ensaios de Montaigne como um momento inaugural do processo que associa escritura e conhecimento de si. A seguir, tecemos algumas considerações sobre a relação entre ensaio e forma literária, que tem em Lukács e Starobinski alguns de seus principais analistas. Por fim, focalizamos o papel do ensaísmo no romance Musil em seu duplo viés: como aspecto formal e como princípio de vida propagado pelo protagonista. O objetivo desta análise é mostrar que, redimensionado à luz de uma obra romanesca, o princípio ensaístico historiciza o papel da escritura como via de acesso a um conhecimento de si e do mundo a partir dos limites da experiência.
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