Resumo
Apesar da retórica de tabula rasa que aparece em tantos pontos de sua obra, Oswald de Andrade construiu sua combinação de literatura e teoria a partir de uma releitura renovadora de momentos decisivos da tradição. Dante Alighieri tem aí papel fundamental. É certo que as constantes referências a Dante na obra de Oswald podem ser vistas, por um lado, como um simples jogo com a tradição. Por outro, porém, podem ser interpretadas como expressões da consciência de que, na obra de Dante, se entabulara uma partida decisiva para a configuração da literatura – e das artes em geral – dali por diante. Ou seja, algumas das questões propostas originalmente por Dante talvez continuassem a interrogar os modernistas brasileiros – como, de resto, interpelavam, à mesma época, escritores de outras paisagens, como Eliot e Mandelstam. Busca-se aqui, por meio de um exame da reproposição de figuras dantescas na peça A morta, de 1937, avaliar a relevância do autor florentino para a constituição da ideia oswaldiana de Antropofagia (repensada aqui como uma teoria da poesia).Referências
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