Resumo
Um dos aspectos mais comumente sublinhados nos Nueve ensayos dantescos é o seu desvio do que seria a impostação predominante na prática da crítica literária – o que é frequentemente traduzido em termos de uma oposição entre Borges e a crítica dantesca. Entretanto, embora Borges de fato se afaste do tom geral dos estudos dantescos, tal polarização, cujos termos parecem indevidamente simplificados, corre o risco de permanecer à margem do verdadeiro problema presente nas suas leituras sobre a Commedia. Não obstante as formulações de Borges possam parecer respostas de um leitor inocente diante de uma obra que guarda infinitas complexidades, a verdade é que elas encobrem uma trama de expedientes de leitura – muitas vezes contraditórios entre si –, que dificilmente poderiam ser caracterizados como “inocentes”. A chave de leitura de Borges, que busca frequentemente encontrar falhas e incoerências em um dos textos clássicos por excelência, pode ser vista como a maneira pela qual o autor se confronta com as chamadas “leituras totalizantes”, às quais as obras canônicas são constantemente submetidas. Por isso, sua atitude não deixa de ser crítica: como bem observou Italo Calvino, os Ensayos dantescos são uma recriação de elementos do poema, marcando, assim, o posicionamento de Borges diante da tradição. Isso posto, a proposta deste estudo é reconhecer, sempre mantendo contato direto com o texto de Dante, os diferentes procedimentos de leitura de Borges e as suas implicações críticas ao longo dos Nueve ensayos dantescos.Referências
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