Resumo
Quando a palavra “metalinguagem” foi criada, o prefixo “meta” adquiriu a conotação de “sobre”: a metalinguagem é aquilo que está sobre a língua. Em Mitologias, de Barthes, o mito aparece como uma metalinguagem: ele captura uma linguagem-objeto e instala sobre ela o seu próprio significado ideológico. Mas a metalinguagem também é empregada pelo intelectual que analisa o mito. O intelectual é um excluído: sua atitude crítica o condena a ficar à margem da linguagem da sociedade. Esse problema da exclusão aparecerá em toda a sua obra, mas será particularmente importante em Discours amoureux. Nos seminários de preparação do livro Fragmentos de um discurso amoroso, a metalinguagem é a responsável para exclusão do pathos amoroso. Para contornar o problema, o autor desenvolve um sofisticado aparelho teórico. Essa teoria desaparecerá no livro: o surgimento do pronome “eu” resolve, aparentemente, a questão. Ao fazê-lo, contudo, Barthes transfere a responsabilidade da metalinguagem para o seu leitor. Ao lermos as flutuações dos sentidos que ele confere à metalinguagem, percebemos que seus textos oferecem modos diferentes de ver as relações das metalinguagens com suas linguagens-objetos.
Referências
BACHELARD, Gaston. A água e os sonhos; ensaios sobre a imaginação da matéria. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
BARTHES, Roland. Mitologias. Lisboa: Edições 70, [197?].
BARTHES, Roland. Sistema da moda. São Paulo: Nacional/Edusp, 1979.
BARTHES, Roland. Crítica e verdade. São Paulo: Perspectiva, 1982.
BARTHES, Roland. Fragmentos de um discurso amoroso. São Paulo: Martins Fontes, 2003a.
BARTHES, Roland. O neutro. São Paulo: Martins Fontes, 2003b.
BARTHES, Roland. A imagem. In: O rumor da língua. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004a, pp. 434-444.
BARTHES, Roland. Aula. 12. ed. São Paulo: Cultrix, 2004b.
BARTHES, Roland. Le discours amoureux [ed. Kindle]. Paris: Seuil, 2007.
BARTHES, Roland. Lexique de l’auteur. Paris: Seuil, 2010.
BARTHES, Roland. Roland Barthes por Roland Barthes. 2. ed. São Paulo: Estação Liberdade, 2017.
BENVENISTE, Émile. O aparelho formal da enunciação. Capítulo 5. In: Problemas de linguística geral II. Campinas: Pontes, 1989, pp. 81-88.
COSTE, Claude. Préface. In: BARTHES, Roland. Le discours amoureux. Paris: Seuil, 2007, posições 524-1099.
CUNHA, Antônio Geraldo da. Dicionário etimológico Nova Fronteira da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.
HJELMSLEV, Louis. Prolegômenos a uma teoria da linguagem,.2. ed. São Paulo: Perspectiva, 2003.
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles (Eds.). Dicionário Houaiss da língua portuguesa. 2. impressão com alterações. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.
JAKOBSON, Roman. Linguística e poética. In: Linguística e comunicação. 14. ed. São Paulo: Cultrix, 1991, pp. 118-162.
PROCOPIO FERRAZ, Paulo. O avesso das frases: metalinguagem, palinódia e epanortose na obra de Roland Barthes. In: AMIGO PINO, Claudia et al. (Org.), Novamente Roland Barthes. Natal: IFRN, 2018, pp. 181-196. Disponível em: https://memoria.ifrn.edu.br/handle/1044/1660. Acesso em: 27 nov. 2019.
REY-DEBOVE, Josette. Le métalangage. Paris: Le Robert, 1978.
SAMOYAULT, Tiphaine. Roland Barthes [ed. Kindle]. Paris: Seuil, 2015.
SAUSSURE. Curso de linguística geral. 27. ed. São Paulo: Cultrix, 2006.
O periódico Remate de Males utiliza a licença do Creative Commons (CC), preservando assim, a integridade dos artigos em ambiente de acesso aberto.