Resumo
O enredo de Memórias de porco-espinho consiste em confissões feitas por um porco-espinho a um baobá sobre sua vida e os crimes que cometeu em nome de seu mestre humano Kibandí. Anunciando abertamente sua animalidade, o porco-espinho ironiza os padrões classificatórios e generalistas dos humanos, mobilizando uma série de elementos que colocam em xeque certos binarismos como natureza e cultura, seres animados e seres inanimados, e questionam a inadequação dessas classificações frente à diversidade e à complexidade animal. Neste artigo, busca-se analisar os modos através dos quais essa autobiografia animal convoca a repensarmos conceitos como humano e não-humano, a categorização em gêneros literários específicos e bem delimitados, os paradigmas dominantes da ciência e as relações entre ficção e realidade, com implicações significativas para examinarmos as relações entre humanos e animais.
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