Resumo
A mais recente peça de Roberto Schwarz, Rainha Lira (2022), é uma apropriação artística dos acontecimentos sociopolíticos brasileiros da última década. Em sua camada mais superficial, ela é uma paródia que põe em cena figuras-chave da história contemporânea. No entanto, esse aspecto, apesar do grande valor documentário que terá no futuro, não determina por si só o valor estético da peça. Ao observar a composição da obra, desde a configuração das falas individuais, passando por sua orquestração cacofônica nas cenas, até os macromovimentos que abrangem toda a trama, vê-se que sua unidade e força estéticas dependem principalmente de sua estrutura. As contradições fundantes da sociabilidade brasileira, objeto principal da ensaística de Schwarz, configuram também a dinâmica formal em Rainha Lira, onde, por exemplo, a relação entre modernidade e atraso aparece profundamente imbricada com a própria dinâmica das falas e das cenas. Por fim, também o caráter político da peça se deve não ao aspecto paródico, mas antes ao ímpeto crítico que impulsiona sua composição literária.
Referências
SCHWARZ, Roberto. A lata de lixo da história: chanchada política. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
OEHLER, Dolf. Ein Höllensturz der Alten Welt – Zur Selbsterforschung der Moderne nach dem Juni 1848. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1988.

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Copyright (c) 2022 Licença Creative Commons