Autora/Narradoras: a "autenticidade narrativa" nos primeiros romances de Fernanda Trías

Resumo

Nos primeiros romances de Fernanda Trías (Montevidéu, Uruguai, 1976), La azotea (2001) e Cuaderno para un solo ojo (2001), as vozes narrativas, sempre femininas, testam sua "autoridade autenticadora", segundo a categoria utilizada por Doležel (1997) para se referir aos diferentes graus de força ilocucionária possuídos pelos atos de fala da ficção narrativa. Não só porque seu conhecimento do mundo narrado tem as limitações de qualquer voz homodiegética, de autenticidade sempre relativa em termos ficcionais; e porque a crescente rarificação perceptiva desses personagens leva o leitor a se distanciar rapidamente de suas formas de entender e valorizar o mundo ao seu redor. Diante disso, ao contrário, a voz do autor torna-se um repositório de expertise e autoridade para, muitas vezes, preencher de sentido as direções e ambiguidades desses mundos subjetivados. É ela quem propõe a quebra das fronteiras claras entre a figura da vítima e do vitimizador, que entende o medo como a emoção fundamental a partir da qual explorar o âmbito da criação literária.