Literatura, política e literatura: encenando a guerra das escritas: Uma leitura da proposta de Jacques Rancière

Resumo

Atualmente, a concepção estética ranceriana tornou-se uma das contribuições mais relevantes para a reflexão sobre a arte e, especialmente, a literatura. No entanto, a perplexidade resultante da leitura dos seus escritos, tanto pela sua novidade como pela profundidade, revela uma certa familiaridade com as correntes do pensamento político e estético contemporâneo, bem como uma certa proximidade com as propostas teórico-críticas sobre a literatura de dois dos maiores estudiosos da língua inglesa: Terry Eagleton e Fredric Jameson. Tais confluências poderiam ser estranhas se considerarmos o distanciamento epistemológico e político em relação ao marxismo feito por Jacques Rancière; Contudo, a referida familiaridade justifica-se se tivermos em conta que os dois referidos teóricos realizam uma leitura crítica e enriquecida da mesma, baseada no pós-estruturalismo, com especial destaque para a política como aspecto estruturante do facto literário. Nesse mesmo sentido, é interessante desvendar a concepção de “literariedade” exposta pelo filósofo francês e sua relação com a política como uma crise do regime representativo que resulta na tomada de poder daqueles que não participam na ficção e que se concretizam em um regime de expressão constituído pelo efeito de tensão do que se chama de guerra de escritas (entre o regime representativo e o regime estético) concebido como o deslocamento de uma poética prescritiva para uma poética histórica.