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Sobrenatureza, Água Viva
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Palavras-chave

Sobrenatureza
Lispector
Metamorfose

Como Citar

SAMMER, Renata. Sobrenatureza, Água Viva : o conceito à luz da ficção de Clarice Lispector. Remate de Males, Campinas, SP, v. 40, n. 1, p. 205–221, 2020. DOI: 10.20396/remate.v40i1.8656951. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/remate/article/view/8656951. Acesso em: 20 abr. 2024.

Resumo

Este artigo examina pontualmente o tratamento que Lispector dedica ao “it”, pronome que, em Água viva, ela utiliza para paradoxalmente nomear o inominável. Este exame pontual da obra de contestada classificação de Lispector, aproxima o “it” do conceito de “sobrenatureza”, tal como contemporaneamente entendido, em particular pelo antropólogo Eduardo Viveiros de Castro e pelo filósofo Marco Antonio Valentim. Desse modo, vemos como a escrita de Lispector cultiva o inefável enquanto tal, investindo no “espaço-entre”, assim evitando cristalizar formas e linearizar as metamorfoses. Ao cultivar um outro espaço e um outro tempo, a autora inventa um espaço sobrenatural, que não pertence à natureza, nem à cultura – o “it”. Além de explorar o texto de Lispector, é propósito deste artigo iluminar o conceito de “sobrenatureza”, ressaltando suas contribuições para a superação da oposição natureza/cultura, que fundamenta o pensamento ocidental moderno.

https://doi.org/10.20396/remate.v40i1.8656951
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