Resumo
Pretendo, neste trabalho, tratar do fecundo diálogo de Ruy Duarte de Carvalho com a obra de Guimarães Rosa, diálogo este tecido na própria escrita do autor angolano. Meu interesse será lidar com a representação literária de modos de ser e de falar alheios (estranhos) àqueles que se apresentam como normais (familiares e adequados) no mundo ocidental ou ocidentalizado. Trata-se de refletir sobre a mimesis, ou seja, sobre a representação do outro e de sua fala, em contextos de confronto cultural, atentando para as instâncias da autoria, da voz narrativa e da representação da fala das personagens (fictícias ou não). Darei destaque para momentos de Desmedida: crônicas do Brasil (2006), da trilogia Os filhos de Próspero (Os papéis do inglês, 2000; As paisagens propícias, 2005; A terceira metade, 2009), de Ruy Duarte de Carvalho, e para Grande sertão: veredas (1956), de Guimarães Rosa. Buscarei sugerir que a leitura feita por Ruy Duarte de Carvalho da ficção rosiana impregna a configuração de suas próprias estratégias de composição literária.Referências
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