Manual agronômico do café
camponeses, terra, contradição e apagamento
DOI:
https://doi.org/10.20396/rua.v27iI.8665449Palavras-chave:
Manual agronômico, Café, Camponês, Escrita, ApagamentoResumo
Este estudo apresenta uma análise linguístico-discursiva do Manual de Implementação dos Itens Fundamentais do Currículo de Sustentabilidade do Café (CSC). Trata-se de um manual agronômico assinado pela Plataforma Global do Café, associação internacional que se ocupa de questões que tocam a cadeia produtiva cafeeira. Nosso objetivo é trazer uma investigação sobre a distância entre o Manual, texto injuntivo sobre as práticas na cafeicultura, e o camponês, alvo frequentemente declarado desse dizer-como-fazer. Esta investigação se sustenta sobre uma articulação entre duas linhas de pesquisa no campo da Linguística, a saber: a História das Ideias Linguísticas e a Análise do Discurso Materialista, notadamente através das categorias teórico-analíticas efeito-leitor (HORTA NUNES, 2008b) e forma sujeito (ORLANDI, 2013). Esse gesto permite expandir uma reflexão sobre os manuais enquanto instrumentos tecnológicos, os quais se fundam por um efeito da escrita enquanto forma única e excludente de materialização do conhecimento. O resultado da análise empreendida torna observável a contradição constitutiva do Manual. Sobre e sob um movimento institucional de apagamento da relação dos camponeses com a terra, o manual agronômico é voltado justamente a esses sujeitos, que historicamente se encontram à margem, a uma só vez, dessa tecnologia e dos saberes legitimados que ela materializa.
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