Banner Portal
O aporte das fontes inquisitoriais para uma história da difusão social da leitura e da escrita no Brasil colonial
PDF

Palavras-chave

Inquisição no Brasil. Distribuição social da leitura e da escrita. História social do português brasileiro

Como Citar

LOBO, Tânia; SARTORI, Ana; SOARES, Rodrigo Mota. O aporte das fontes inquisitoriais para uma história da difusão social da leitura e da escrita no Brasil colonial. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, SP, v. 58, n. 2, p. 277–298, 2016. DOI: 10.20396/cel.v58i2.8647155. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cel/article/view/8647155. Acesso em: 4 nov. 2024.

Resumo

O Brasil é um país de escolarização em massa e imprensa tardias. Paradoxalmente, é através dos espaços institucionais formais, sobretudo a escola, que se tem buscado traçar a história da distribuição social da leitura e da escrita na sociedade brasileira, não necessariamente, contudo, tomando tal questão como foco – em uma abordagem global, de caráter sociológico e demográfico –, mas apenas dando pistas para a sua compreensão, através, por exemplo, da história das políticas educacionais, do mapeamento dos métodos de ensino ou ainda da história da construção dos materiais didáticos, enfatizando-se, na maioria das vezes, o analfabetismo da população. Identifica-se, portanto, uma carência de investigações, que, contemplando novas fontes, novos métodos, novos espaços, novos atores, abordem a multifacetada questão da distribuição social da leitura e da escrita na sociedade brasileira, desde as suas origens coloniais. Buscando contribuir para preencher tal lacuna, o projeto Leitura e escrita aos olhos da Inquisição objetiva traçar, a partir da análise das fontes documentais produzidas pelas visitações do Santo Ofício, um quadro aproximativo da faculdade das letras na América colonial portuguesa. Neste artigo, apresentam-se resultados parciais das pesquisas desenvolvidas no âmbito do referido projeto, analisando-se o conjunto de depoimentos prestados e assinados perante o Santo Ofício constantes do Livro das Denunciações e do Livro das Confissões e Reconciliações, escritos ambos quando da segunda visitação da Inquisição à Capitania da Bahia, entre 1618 e 1620. Cruzando a variável binária assinante versus não assinante com as variáveis sexo, origem geográfica do depoente, etnia, condição religiosa e categoria socioocupacional, esboça-se um perfil sociológico dos letrados nos primórdios da colonização, contexto marcadamente multilíngue e de quase ausência de instituições voltadas à alfabetização. Ao abarcar a questão da distribuição social da leitura e da escrita no período colonial, abarca-se uma das questões-chave para a compreensão da história social do português brasileiro.

https://doi.org/10.20396/cel.v58i2.8647155
PDF

Referências

AZEVEDO, João Lúcio de (2008). História de Antônio Vieira. Tomo 1. São Paulo: Alameda.

ARQUIVO NACIONAL DA TORRE DO TOMBO (ANTT). Site do ANTT. Lisboa: ANTT, 2005. Atualização diária. Disponível em: http://antt.dgarq.gov.pt/. Acesso em: 11 set. 2012.

CASTILLO GÓMEZ, Antonio; SÁEZ, Carlos (1994). Paleografía versus alfabetización. Reflexiones sobre historia social de la cultura escrita, SIGNO. Revista de Historia de la Cultura Escrita, n. 1, Alcalá de Henares, p.p. 133-168.

CHARTIER, Roger (2004). “As práticas da escrita”. In: ARIÈS, Philippe; CHARTIER, Roger (Orgs.). História da vida privada: da Renascença ao século das luzes. São Paulo: Companhia das Letras.

COUTO, Jorge (1998). A construção do Brasil: ameríndios, portugueses e africanos, do início do povoamento a finais de Quinhentos. Lisboa: Edições Cosmos.

SEGUNDA Visitação do Santo Ofício às partes do Brasil pelo Inquisidor e Visitador Marcos Teixeira: Livro das Confissões e Ratificações da Bahia, 1618-1620. Introdução de Eduardo de Oliveira França Sônia Siqueira. Anais do Museu Paulista, t. XVII, 1963.

GALVÃO, Ana Maria de Oliveira (2010). “História das culturas do escrito: tendências e possibilidades de pesquisa”. In: MARINHO, Marildes; CARVALHO; Gilcinei Teodoro (Org.). Cultura escrita e letramento. Belo Horizonte: Editora da UFMG.

HOUAISS, Antônio (1985). A língua portuguesa no Brasil. Rio de Janeiro, UNIBRADE.

LIVRO das Denunciações da Bahia que se fizerão na Visitação do Santo Officio á Cidade Salvador da Bahia de Todos os Santos do Estado do Brasil, no anno de 1618. Introdução de Rodolfo Garcia. Annaes da Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro, v. XLIX, 1936.

LANGELI, Attilio Bartoli (1996). Historia del alfabetismo y método cuantitativo, SIGNO. Revista de Historia de la Cultura Escrita, n. 3, Alcalá de Henares, p.p. 87-106.

LOBO, Tânia; OLIVEIRA, Klebson (2013). “Ainda aos olhos da Inquisição: novos dados sobre níveis de alfabetização na Bahia em finais de quinhentos”. In: ÁLVAREZ, Rosario; MARTINS, Ana Maria; MONTEAGUDO, Henrique; RAMOS, Maria Ana (Org.). Ao sabor do texto. Estudos dedicados a Ivo Castro. Santiago de Compostela: Universidade de Santiago de Compostela, Servizo de Publicacións e Intercambio Científico. p.p. 10-25.

MARQUILHAS, Rita (2000). A faculdade das letras: leitura e escrita em Portugal, séc. XVII. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda.

MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia (1998). “Ideias para a história do português brasileiro: fragmentos para uma composição posterior”. In: CASTILHO, Ataliba Teixeira de (Org.). Para a história do português brasileiro. V. 1 Primeiras idéias. São Paulo: Humanitas/FAPESP. p.p. 21-52.

NASCIMENTO, Anna Amélia Vieira do (1994). Patriarcado e religião: as enclausuradas clarissas do Convento do Desterro da Bahia, 1677-1890. Salvador: Conselho Estadual de Cultura.

RODRÍGUEZ, Marie-Christine; BENNASSAR, Bartolomé (1978). Signatures et niveau culturel des témoins et accusés dans les procès d ́Inquisition du ressort du tribunal de Tolède (1525-1817) et du ressort du tribunal de Cordoue (1595-1632). Caravelle, n. 31, p.p. 14-46

ROMANELLI, Otaíza de Oliveira (2002). História da educação no Brasil: 1930/1973. 27 ed. Petrópolis: Vozes.

SARTORI, Ana (2016). Pela pena do Santo Ofício: difusão social da escrita nas capitanias de Pernambuco, Itamaracá e Paraíba em finais Quinhentos. Tese (Doutorado em Língua e Cultura). Universidade Federal da Bahia.

SIQUEIRA, Sônia Aparecida de (1978). A Inquisição portuguesa e a sociedade colonial. São Paulo: Ática.

O periódico Cadernos de Estudos Linguísticos utiliza a licença do Creative Commons (CC), preservando assim, a integridade dos artigos em ambiente de acesso aberto.

Downloads

Não há dados estatísticos.