Resumo
Esta pesquisa avaliou quais parâmetros acústicos foram modificados e quais permaneceram inalterados na fala de indivíduos durante a utilização de dois disfarces vocais: um envolvendo a utilização de um lápis posicionado atrás dos dentes incisivos e outro buscando imitar a fala do apresentador de televisão Sílvio Santos. O corpus foi composto por amostras de fala de três locutores do sexo masculino que leram a transcrição de um discurso deste apresentador em três situações: (1) utilizando seus padrões de fala habituais; (2) imitando o apresentador Sílvio Santos; e (3) utilizando um lápis na boca. Foram analisadas as frequências dos dois primeiros formantes; frequência fundamental, por meio dos descritores estatísticos mediana e valor de base; ênfase espectral; duração das vogais orais do português brasileiro e das pausas silenciosas; e a duração entre dois picos consecutivos da frequência fundamental. Os resultados mostram que os locutores conseguiram desviar da própria fala por meio de alterações na entonação, no esforço vocal, em alongamentos vocálicos e por alterações no tempo global do discurso. As alterações nas frequências formânticas resultaram na reconfiguração do espaço vocálico. Essas modificações estavam associadas ao desejo de alcançar o registro vocal do locutor-alvo, no caso da imitação, ou às restrições impostas pelo uso do lápis na boca. Não foram atestadas modificações significativas nos valores obtidos para a duração interpicos da frequência fundamental para nenhum dos locutores.Referências
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