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Ordem do sujeito e colocação de clíticos na escrita brasileira dos séculos XIX e XX
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Palavras-chave

Posição do sujeito
Próclise
Português brasileiro

Como Citar

MARTINS, Marco Antonio Rocha; CAVALCANTE, Silvia Regina de Oliveira; COELHO, Izete Lehmkuhl. Ordem do sujeito e colocação de clíticos na escrita brasileira dos séculos XIX e XX: reflexos da gramática do Português Brasileiro. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, SP, v. 62, n. 00, p. e020005, 2020. DOI: 10.20396/cel.v62i0.8655919. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cel/article/view/8655919. Acesso em: 25 abr. 2024.

Resumo

No campo disciplinar da sintaxe diacrônica, analisamos, neste artigo, a mudança na ordem do sujeito e na colocação de clíticos em sentenças matrizes em ambientes neutros ([XP])[XP]V em textos de jornais brasileiros de diferentes estados e em cartas pessoais escritas por brasileiros, no curso dos séculos XIX e XX. O objetivo principal é apresentar evidências empíricas que justifiquem uma mesma mudança microparamétrica na gramática do Português Brasileiro (PB) correlacionada à evolução de dois fenômenos sobejamente descritos: (1) o enrijecimento da ordem Sujeito-Verbo em estruturas transitivas e (2) o aumento da próclise em ambientes neutros [(XP)XP-cl-Verbo]. Defendemos a hipótese de que a próclise gerada pela gramática do PB no contexto [XP]V aparece com mais robustez apenas em textos brasileiros oitocentistas da segunda metade do século XIX, momento em que reflexos de uma gramática do tipo-SV também se revela expressivamente nesses mesmos textos. Nessa direção, buscamos evidências de que a escrita da primeira metade do século XIX reflete, ainda, propriedades de uma gramática do tipo-V2, como o Português Clássico (PCl). Os resultados evidenciam diferentes forças linguísticas e diatópicas que mostram a escrita do Rio de Janeiro e da Bahia mais conservadora do que a dos estados do Ceará, de Pernambuco e de Santa Catarina, atuando no condicionamento da próclise em ambiente neutro ([XP])[XP]V. Esses resultados parecem validar a hipótese investigada: em textos da primeira metade do século XIX atuam, ainda, forças de uma gramática conservadora com sujeitos nulos e com propriedades de uma língua do tipo-V2 em que qualquer constituinte, inclusive o sujeito, pode estar numa posição anterior e contígua ao verbo, como o PCl; em textos da segunda metade do século XIX e do século XX atuam forças de uma gramática com sujeitos realizados em SV, como o PB.

https://doi.org/10.20396/cel.v62i0.8655919
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