Resumo
Neste trabalho, investigamos o papel das preposições ‘para’ e ‘até’ na construção de telicidade em português brasileiro (PB), em sentenças como “Ana correu até a farmácia”. Para Nam (2004) e Filip (2004), qualquer preposição que indique o ponto final de uma trajetória (o alvo do movimento) é capaz de inserir a noção de telicidade na estrutura do evento, no entanto, os dados do PB não parecem sustentar essa hipótese. Assim, para compreender como ‘para’ e ‘até’ atuam no licenciamento de telicidade para eventos classificados tipicamente como atélicos (atividades e semelfactivos), exploramos o comportamento semântico desses itens e discutimos o que se entende por telicidade na literatura. Demonstraremos que ‘para’ e ‘até’ apresentam propriedades distintas, tais como transição, delimitação e cumulatividade e é a interação dessas propriedades no cálculo entre o VP e o PP o que faz um evento ser classificado como télico quando esses itens estão presentes na estrutura. Além disso, discutimos o funcionamento de ‘para’ e ‘até’ em contextos não espaciais, para demonstrar que embora limite seja uma noção fundamental na classificação dessas preposições, essa propriedade não equivale ao conceito de telicidade, conforme se assume na literatura (Jackendoff, 2010).
Referências
BASSO, R. M. Telicidade e detelicização: semântica e pragmática do domínio tempo-aspectual. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Universidade de Campinas, Campinas, 2007.
BASSO, R. M. Uma proposta para a semântica dos adjuntos' em X tempo' e 'por X tempo'. ALFA: Revista de Linguística, v. 55, n. 1, 2011.
BASSO, R. M.; BERGAMINI-PEREZ, J. F. A semântica de vetores: uma proposta de análise para os adjuntos temporais. Revista Letras, v. 96, 2017.
COMRIE, B. Aspect: An introduction to the study of verbal aspect and related problems. 1976.
FERREIRA, T. L.; BASSO, R. M. Preposições de ALVO no português brasileiro: uma comparação entre 'para' e 'até'. Revista Linguíʃtica, v. 15, n. 3, p. 43-68. DOI: http://dx.doi.org/10.31513/linguistica.2019.v15n3a27505
FILIP, H. Prefixes and the delimitation of events. Journal of Slavic Linguistics, v. 11. n. 1, p. 55–101, 2004.
GEHRKE, B. Ps in Motion: On the Semantics and Syntax of P Elements and Motion Events. PhD Thesis, Utrecht University. LOT Dissertation Series 184, 2008.
ILARI, R. et. al. A preposição. In: ILARI, R. (Org.). Gramática do português culto falado no Brasil: volume IV: palavras de classe fechada. São Paulo: Contexto, 2015. p. 163-310.
JACKENDOFF, R. Semantics and Cognition. Cambridge, MA: MIT Press, 1983.
JACKENDOFF, R. Meaning and the Lexicon: The Parallel Architecture 1975-2010. Oxford University Press, 2010.
KEARNS, K. Telic senses of deadjectival verbs. Lingua, v. 117, p. 26-66, 2007.
KRIFKA, M. The Origins of Telicity. In: ROTHSTEIN, S. (Ed.) Events and Grammar. Dordrecht, Kluwer Academic Publishers, p.197-235, 1998.
NAM, S. Goal and source: Asymmetry in their syntax and semantics. Workshop on Event Structures in Linguistic Form and Interpretation, Leipzig/Ms. Seoul National University, 2011.
PANTCHEVA, M. Decomposing path: The nanosyntax of directional expressions. (Tese – Doutorado em Linguística), Universidade de Tromso, 2011.
RAMCHAND, G. The event domain. In: D’Alessandro et al. (Eds.) The Verbal Domain, p. 233–254. Oxford: Oxford University Press.
ROTHSTEIN, S. Structuring Events: A Study in the Semantics of Lexical Aspect. Oxford: Blackwell, 2004.
VERKUYL, H. J. Aspectual Composition: Surveying the Ingredientes. Utrecht Institute of Linguistics OTS. P. 201-2019. 2003.
WINTER, Y. Closure and Telicity across Categories. In: M. Gibson & J. Howell (Eds.), Preceedings of SALT XVI, p. 329-346, Ithaca, NY: Cornell University, 2006.
ZWARTS, J. Prepositional Aspect and the Algebra of Paths. Linguistics and Philosophy, v. 28, n. 6, p. 739-779, 2005.
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Copyright (c) 2020 Cadernos de Estudos Lingüísticos