Resumo
Este artigo analisa um recorte da complexidade enunciativa da narrativa Memórias da Emília (1939 [1969]). Essa análise tem como objetivo descrever em que planos dessa complexidade deslocamentos do locutor-narrador são representados no material analisado. Para tanto, como referencial teórico-metodológico, foram utilizados os estudos sobre a heterogeneidade mostrada, de Authier-Revuz (1998, 2004), e os estudos sobre o paradigma indiciário, de Ginzburg (1991). Os resultados expuseram uma complexidade enunciativa constitutiva da organização do dizer, sob a forma de uma complexa justaposição de enunciações em que o locutor, atribuído à figura de narrador, simula relações dialógicas construídas como enunciadas por diferentes interlocutores nessas relações. Essa complexidade indicia planos de enunciação que marcam uma heterogeneidade de formas de inscrição do outro no (fio do) discurso, que não se enunciam numa transparência do dizer, dada a dialogia que constitui esses planos. Essas diferentes formas sugerem, pois, que se narra por uma justaposição de planos enunciativos.
Referências
AUTHIER-REVUZ, J. Heterogeneidade(s) enunciativa(s). Cadernos de Estudos Linguísticos. Campinas, v. 19, 1990. p. 25-42.
AUTHIER-REVUZ, J. Palavras incertas: as não-coincidências do dizer. Campinas: Unicamp, 1998.
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GINZBURG, C. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
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