Resumo
Neste artigo, tomamos luto como discurso, configurando-se como efeito de sentido produzido no e pelo funcionamento da linguagem. Assim procedendo, questionamos como a significação de luto se movimenta, ganha direções ao materializar relações com outro(s) sentido(s), o que torna visível, discursivamente, o sentido de luto como não-um, ponto de possíveis articulações discursivas – relações de sustentação no/do fio discursivo – e latitudes discursivas – relações de distensão-(re)arranjo no/do fio discursivo. É por essas articulações e latitudes que o não-um sentido de luto constitui-se como metáfora e, dessa maneira, estrutura a e se estrutura pela produção de discursividades que significam diferentes formações sociais em direções diversas. Para lermos como a metáfora luto produz derivas, expomo-la, metodologicamente, a outras, como a do espelho – "uma imagem (que é) perturbad(or)a" – e a do sufocamento – "não é possível respirar". Compreendemos, assim, como o não-um sentido de luto funciona convocando relações que historicizam diferentes modos de "estar em luto", isto é, diferentes modos de (re)produzir o jogo da presença-ausência na e pela linguagem que determinam certos movimentos de identificação simbólica no e para o sujeito.
Referências
ALTHUSSER, L. Ideologia e aparelhos ideológicos do Estado. Trad. Port. Lisboa: Editorial Presença, 1970.
ASSIS, J. M. Machado de. O Espelho - esboço de uma nova teoria sobre a alma humana. In: ASSIS, J. M. Machado de. Obra Completa, v. II [Conto e Teatro, Papéis Avulsos]. Org. de Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1979. p. 345-352.
BASHÔ, M. 39 Haikais de Bashô. Trad. Bras. Edição Independente, Amazon, E-book, 2020.
BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N; PASQUINO, G. Dicionário de Política. Trad Bras. 11. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998. 2 vols.
CHEMAMA, R. Dicionário de psicanálise. Trad Bras. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1995.
DAVALLON, J. Imagem, uma arte de memória? In: PÊCHEUX, M. et al. Papel da memória. Trad. Bras. Campinas: Pontes, 1999 [1983]. p. 23-37.
ESTADOS e municípios temem falta de oxigênio e alertam Ministério da Saúde. O Globo [online], Rio de Janeiro, 18 março 2021. Disponível em: https://oglobo.globo.com/sociedade/coronavirus/estados-municipios-temem-falta-de-oxigenio-alertam-ministerio-da-saude-24929488. Acesso em 05/04/2021.
FALTA oxigênio em Manaus: 4 pontos para entender o caos na capital do Amazonas. Gazeta do Povo [online], Curitiba, 15 março 2021. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/coronavirus-manaus-colapso-falta-oxigenio/. Acesso em 05/04/2021.
FOUCAULT, M. Capítulo I. Las meniñas. In: FOUCAULT, M. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. Trad. Bras. 8. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999 [1966].
FREUD, S. Além do princípio do prazer. In: FREUD, S. Obras completas (1917-1920), vol. 14 [Versão e-book]. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
HAROCHE, C; PÊCHEUX, M.; HENRY, P. A semântica e o corte saussuriano: língua, linguagem, discurso. In: BARONAS, R. L. (Org.) Análise do Discurso: apontamentos para uma história da noção-conceito de formação discursiva. 2. ed. rev. e ampl. São Carlos: Pedro & João, 2011 [1971]. p. 13-32.
LACAN, J. Séminaire 20 - Encore (1972-73). Versão online disponível em: http://staferla.free.fr/S20/S20%20ENCORE.pdf. Acesso em 29/07/2021.
MARIANI, B. S. C. Escrevendo perda e luto em Esaú e Jacó. In: TFOUNI, L. V. Letramento, escrita e leitura: questões contemporâneas. Campinas: Mercado de Letras, 2010. p. 33-42.
ORLANDI, E.P. A análise de discurso e seus entre-meios: notas a sua história no Brasil. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, n. 42, p. 21-40, jan./jun. 2002. Disponível em: https://core.ac.uk/download/pdf/296609823.pdf. Acesso em 05/04/2021.
PAZ, O. A poesia de Matsúo Bashô. In: PAZ, O. Signos em rotação. Trad. Bras. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 1996 [1954]. p. 155-167.
PÊCHEUX, M. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Trad. Bras. 2. ed. Campinas: Editora da Unicamp, 1995 [1975].
PÊCHEUX, M. Papel da memória. In: PÊCHEUX, M. et al. Papel da memória. Trad. Bras. Campinas: Pontes, 1999 [1983]. p. 49-57.
PÊCHEUX, M. O discurso: estrutura ou acontecimento. 2. ed. Campinas: Pontes, 1997 [1983].
ROSA, J. G. O Espelho. In: ROSA, J. G. Primeiras Histórias. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2001 [1962].
ROUDINESCO, E.; PLON, M. Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
SERENI, E. De Marx a Lênin: a categoria de "formação econômico-social". Meridiano [Revista de Geografía], Buenos Aires, Centro de Estudios Alexander von Humboldt, n. 2, p. 297-346, 2013. Disponível em: http://www.revistameridiano.org/n2/17/. Acesso em 22/02/2021.
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Copyright (c) 2021 Cadernos de Estudos Linguísticos