Resumo
O presente artigo tem como objetivo analisar a seção “Quando crescer, vou ser ...”, da revista de divulgação científica Ciência Hoje das Crianças (CHC). Destacamos a memória como o conceito teórico basilar para a reflexão desenvolvida. Detivemo-nos em dois enunciados que povoam o imaginário sobre o futuro da criança brasileira: “cientistas de amanhã” e “criminosos de amanhã”. Importa sublinhar que, considerando esses dois enunciados, pudemos conjugar a historicidade inscrita no título da seção da revista CHC; de fato, um enunciado que ressoa o imaginário de infância atrelada à profissão de cientista, diga-se uma profissão socialmente prestigiada. O efeito de sentido produzido na seção é o da promoção da perpetuação imaginária de futuro promissor para os leitores da revista. Observa-se que o trabalho da memória constrói uma previsibilidade, produzindo a ilusão de que nada muda, ou melhor, a ilusão de perpetuação da valorização da atividade científica, sobretudo, da valorização das ciências naturais e exatasReferências
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