Banner Portal
A gramaticalização de capaz em português brasileiro e em espanhol
PDF

Palavras-chave

Capaz
Modalidade
Gramaticalização

Como Citar

RODRIGUES, Patrícia de Araújo; LUNGUINHO, Marcus Vinicius. A gramaticalização de capaz em português brasileiro e em espanhol. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, SP, v. 63, n. 00, p. e021019, 2021. DOI: 10.20396/cel.v63i00.8661586. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cel/article/view/8661586. Acesso em: 20 abr. 2024.

Resumo

Este artigo discute diferentes estágios de gramaticalização da expressão capaz em português brasileiro e em espanhol. Nessas línguas, capaz pode funcionar como um adjetivo predicativo (com significado de ‘apto’) e pode corresponder a um modal de habilidade: João é capaz de dançar tango / Juan es capaz de bailar tango. Essas mesmas sentenças veiculam também uma leitura epistêmica: É provável que João dance tango. O português brasileiro e o espanhol americano, mas não o espanhol peninsular, apresentam ainda um uso epistêmico particular de capaz, com um complemento finito: (É) capaz que ninguém vá na sua casa / (Es) capaz que nadie vaya a su casa. Além desses usos, o português brasileiro apresenta um uso em que capaz funciona como um marcador discursivo, indicando surpresa e/ou ponto de vista negativo do falante: Capaz que a Maria casou!. Propomos que, a cada reanálise, capaz ocupa uma posição mais alta na estrutura oracional, estabelecendo um percurso de gramaticalização característico: perda do sentido etimológico > desenvolvimento do sentido epistêmico (estruturas bioracionais e mono-oracionais) > aquisição de função discursiva (estrutura mono-oracional).

https://doi.org/10.20396/cel.v63i00.8661586
PDF

Referências

ALEZA IZQUIERDO, M. Morfología y sintaxis. Observaciones gramaticales de interés en el español de América. In: ALEZA IZQUIERDO, M.; ENGUITA UTRILLA, J. M. (orgs.). La Lengua Española en América: normas y usos actuales. València: Universitat de València, 2010. p. 95-224.

BASSI, A.; GÖRSKI, E. M. A multifuncionalidade do item capaz na fala gaúcha: uma abordagem baseada no uso. Alfa, v. 58, n. 3, p. 593-622, 2014. DOI: https://doi.org/10.1590/1981-5794-1409-4.

BYBEE, J.; PERKINS, R.; PAGLIUCA, W. The Evolution of Grammar. Tense, aspect, and modality in the languages of the world. Chicago: University of Chicago Press, 1994.

CASTROVIEJO, E.; OLTRA-MASSUET, I. Generic and action-dependent abilities in Spanish ‘Be capable’. Glossa: a journal of general linguistics, v. 3, n. 1, p. 1-32, 2018. DOI: https://doi.org/10.5334/gjgl.495.

CAVALCANTE, R.; SIMIONI, L. Capaz como marcador negativo enfático no dialeto gaúcho. Revista de Estudos da Linguagem, v. 27, n. 2, p. 669-700, 2019. DOI: https://doi.org/10.17851/2237-2083.27.2.669-700.

CRUSCHINA, S. The expression of evidentiality and epistemicity: Cases of grammaticalization in Italian and Sicilian. Probus, v. 27, n. 1, p. 1-31, 2015. DOI: https://doi.org/10.1515/probus-2013-0006.

CRUSCHINA, S.; REMBERGER, E.-M. Speaker-oriented syntax and root clause complementizers. Linguistic Variation, v. 18, n. 2, p. 336-358, 2018. DOI: https://doi.org/10.1075/lv.16009.cru.

DI TULLIO, Á.; KORNFELD, L. M. Marcas de modalidad epistémica en el registro coloquial. In: DI TULLIO, Á. (org.). El Español de la Argentina: estudios gramaticales. Buenos Aires: Eudeba, 2013. p. 83-103.

Diccionario Integral de Español de Argentina. Buenos Aires: Tinta Tresca, 2008.

GRANDÉZ ÁVILA, M. A Functional Approach to the Subjectification of Facultative Meaning: the case of capaz in American Spanish. Dissertação de Mestrado. Amsterdam: University of Amsterdam, 2010. Disponível em: http:// dare.uva.nl/cgi/arno/show.cgi?fid=184837.

HEINE, B.; NARROG, H. Grammaticalization and linguistics analysis. In: HEINE, B.; NARROG, H. (orgs.). The Oxford Handbook of Linguistic Analysis. Oxford: Oxford University Press, 2012. p. 401-423.

HERNANZ, M. L. El Infinitivo. In: BOSQUE, I.; DEMONTE, V. (orgs.). Gramática Descriptiva de la Lengua Española. Buenos Aires: Espasa Calpe, 1999. v. 2, p. 2196-2356.

HILL, V. Vocatives and the pragmatics-syntax interface. Lingua, v. 117, n. 2, p. 2077-2105, 2007.

HILL, V. Vocatives. How syntax meets with pragmatics. Leiden: Brill Publishers, 2014.

HOPPER, P. J.; TRAUGOTT, E. C. Grammaticalization. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.

KENNY, A. Human abilities and dynamic modalities. In: MANNINEN, J.; TUOMELA, R. (orgs.). Essays on Explanation and Understanding. Dordrecht: Reidel, 1976. p. 209-232.

KOCHER, A. Claro que Son Adverbios: Analisis de un proceso de gramaticalizacion. Dissertação de Mestrado. Viena: University of Vienna, 2014.

KOCHER, A. From verum to epistemic modality and evidentiality: On the emergence of the Spanish Adv + C construction. Journal of Historical Linguistics 7(1/2). 78-111, 2017. DOI: https://doi.org/10.1075/jhl.7.1-2.04koc.

KRATZER, A. The notional category of modality. In: EIKMEYER, H. J.; RIESER, H. (orgs.). Words, Worlds, and Contexts: New approaches in word semantics. Berlin: de Gruyter, 1981. p. 38-74.

KRATZER, A. Modality. In: VON STECHOW. A.; WUNDERLICH, D. (org.). Semantics: An international handbook of contemporary research. Berlin: de Gruyter, 1991. p. 639-650.

KRATZER, A. Modals and Conditionals. Oxford: Oxford University Press, 2012.

LEHMANN, C. Thoughts on Grammaticalization. Berlin: Language Science Press, 2015.

NEGRONI, M. M. G.; SPINOLA, S. S. Marqueurs de discours et distanciation: une étude contrastive de peut-être, capaz et por ahí. Estudios Románicos, v. 22, p. 53-64, 2013.

PALMER, F. R. Mood and Modality. 2a ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2001.

PIMPÃO, T. S.; SANTOS, W. S. Variação estável ou mudança em progresso? A expressão do modo subjuntivo em três variedades do português brasileiro. Caderno Seminal Digital Especial, v. 30, n. 30, p. 248-290, 2018. DOI: https://doi.org/10.12957/cadsem.2018.33066

PORTNER, P. Modality. Oxford: Oxford University Press, 2009.

REAL ACADEMIA ESPAÑOLA / ASOCIACIÓN DE ACADEMIAS DE LA LENGUA ESPAÑOLA. Nueva Gramática de la Lengua Española - NGLE. Madrid, Espasa-Calpe, 2009.

REAL ACADEMIA ESPAÑOLA. Banco de dados (CREA). Corpus de Referencia del Español Actual. Disponível em: <http://www.rae.es>. Acesso em: agosto 2020.

REAL ACADEMIA ESPAÑOLA. Banco de dados (CREA). Diccionario Panhispánico de Dudas. Disponível em: < https://www.rae.es/dpd/capaz>. Acesso em: outubro 2020.

ROBERTS, I. Diachronic Syntax. Oxford: Oxford University Press, 2007.

ROBERTS, I. Syntactic Change. In: CARNIE, A.; SIDDIQI, D. & SATO, Y. (orgs.). Routledge Handbook of Syntax. London: Routledge, 2014. pp. 391-408.

ROBERTS, I.; ROUSSOU, A. Syntactic Change. A minimalist approach to grammaticalization. Cambridge: Cambridge University Press, 2003. DOI: https://doi.org/10.1017/CBO9780511486326.

RODRIGUES, P.; LUNGUINHO, M. V. A pragmaticalização de capaz em português brasileiro e a codificação da atitude do falante. Revista de Estudos da Linguagem, v. 27, n. 2, p. 549-574, 2019. DOI: 10.17851/2237-2083.27.2.549-574.

RODRÍGUEZ ESPIÑEIRA, M. J. Cambio semántico y sintáctico en las construcciones de capaz. In: GARCÉS GÓMEZ, M. P. (org.). Perspectivas Metodológicas en la Elaboración de un Diccionario Histórico. Madrid / Frankfurt: Iberoamericana / Vervuert, 2018. p. 117-186. DOI: https://doi.org/10.31819/9783954879267-005.

SPEAS, M.; TENNY, C. Configurational properties of point of view roles. In: DI SCIULLO, A. M. (org.). Asymmetry in Grammar. Amsterdam: John Benjamins, 2003. p. 315-344. DOI: https://doi.org/10.1075/la.57.15spe.

TEIXEIRA, L. R.; GRITTI, L. L.; KOSLINSKI, E. Algumas considerações semântico-pragmáticas sobre capaz. Cadernos de Estudos Linguísticos, v. 61, p. 1-25, 2019. DOI: https://doi.org/10.20396/cel.v61i0.8654342.

VAN GELDEREN, E. Grammaticalization as Economy. Amsterdam: John Benjamins, 2004.

VON WRIGHT, G. H. An Essay in Modal Logic. Amsterdam: North Holland, 1951.

Creative Commons License

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.

Copyright (c) 2021 Cadernos de Estudos Linguísticos

Downloads

Não há dados estatísticos.