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O aporte das fontes inquisitoriais para uma história da difusão social da leitura e da escrita no Brasil colonial
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Palavras-chave

Inquisição no Brasil. Distribuição social da leitura e da escrita. História social do português brasileiro

Como Citar

LOBO, Tânia; SARTORI, Ana; SOARES, Rodrigo Mota. O aporte das fontes inquisitoriais para uma história da difusão social da leitura e da escrita no Brasil colonial. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, SP, v. 58, n. 2, p. 277–298, 2016. DOI: 10.20396/cel.v58i2.8647155. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cel/article/view/8647155. Acesso em: 17 jul. 2024.

Resumo

O Brasil é um país de escolarização em massa e imprensa tardias. Paradoxalmente, é através dos espaços institucionais formais, sobretudo a escola, que se tem buscado traçar a história da distribuição social da leitura e da escrita na sociedade brasileira, não necessariamente, contudo, tomando tal questão como foco – em uma abordagem global, de caráter sociológico e demográfico –, mas apenas dando pistas para a sua compreensão, através, por exemplo, da história das políticas educacionais, do mapeamento dos métodos de ensino ou ainda da história da construção dos materiais didáticos, enfatizando-se, na maioria das vezes, o analfabetismo da população. Identifica-se, portanto, uma carência de investigações, que, contemplando novas fontes, novos métodos, novos espaços, novos atores, abordem a multifacetada questão da distribuição social da leitura e da escrita na sociedade brasileira, desde as suas origens coloniais. Buscando contribuir para preencher tal lacuna, o projeto Leitura e escrita aos olhos da Inquisição objetiva traçar, a partir da análise das fontes documentais produzidas pelas visitações do Santo Ofício, um quadro aproximativo da faculdade das letras na América colonial portuguesa. Neste artigo, apresentam-se resultados parciais das pesquisas desenvolvidas no âmbito do referido projeto, analisando-se o conjunto de depoimentos prestados e assinados perante o Santo Ofício constantes do Livro das Denunciações e do Livro das Confissões e Reconciliações, escritos ambos quando da segunda visitação da Inquisição à Capitania da Bahia, entre 1618 e 1620. Cruzando a variável binária assinante versus não assinante com as variáveis sexo, origem geográfica do depoente, etnia, condição religiosa e categoria socioocupacional, esboça-se um perfil sociológico dos letrados nos primórdios da colonização, contexto marcadamente multilíngue e de quase ausência de instituições voltadas à alfabetização. Ao abarcar a questão da distribuição social da leitura e da escrita no período colonial, abarca-se uma das questões-chave para a compreensão da história social do português brasileiro.

https://doi.org/10.20396/cel.v58i2.8647155
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