Resumo
O reconhecimento dos valores históricos, artísticos e memoriais do patrimônio moderno construído é relativamente recente. Por ser uma categoria de preexistência arquitetônica ainda insuficientemente estudada sob o ponto de vista da preservação, sua recuperação física tem gerado importantes debates nos ambientes acadêmicos e profissionais acerca da aplicabilidade das recomendações internacionais de restauro de monumentos. Ao moderno só caberiam reformas de manutenção? Visando suscitar reflexões sobre as muitas variáveis de análise dos objetos historicizados associadas às questões de autenticidade que tangenciam a conservação do patrimônio arquitetônico moderno, neste artigo toma-se como objeto de discussão a Vila Serra do Navio. Trata-se de uma company-town localizada no Estado do Amapá, no meio da selva amazônica, tombada pelo IPHAN em 2011 como patrimônio cultural. Projetada pelo arquiteto paulista Oswaldo Arthur Bratke, a Vila foi construída na década de 1960 com excepcional qualidade técnica, formal e estética, e se vincula à especial episódio do desenvolvimento econômico brasileiro relacionado à exploração de minério. Seus edifícios estão sofrendo continuo processo de descaracterização. O objetivo deste artigo é contribuir com discussões sobre as perspectivas de preservação das edificações modernas da Vila, abordando questões teóricas fundantes do campo disciplinar da restauração e a reversão de critérios consolidados em documentos internacionais reguladores do século XXI.
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