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A gente parece um camaleão: (re)construções identitárias em um grupo de estudantes cabo-verdianos no Rio de Janeiro
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Palavras-chave

Estudantes. Cabo-verdianos. Identidades. Deslocamentos. Etnicidade

Como Citar

HIRSCH, Olivia Nogueira. A gente parece um camaleão: (re)construções identitárias em um grupo de estudantes cabo-verdianos no Rio de Janeiro. Pro-Posições, Campinas, SP, v. 20, n. 1, p. 65–81, 2016. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8643424. Acesso em: 2 maio. 2024.

Resumo

O artigo baseia-se em pesquisa realizada com estudantes provenientes do arquipélago de Cabo Verde, localizado na costa Ocidental da África, que se instalaram no Rio de Janeiro com o objetivo de obter uma formação de nível superior. A investigação, que resultou em uma dissertação de mestrado, busca compreender os processos de (re)construção identitária vividos por esses jovens, muitos dos quais identificados como negros e africanos pelos brasileiros. Com vistas a contextualizar o impacto desse olhar externo sobre esses estudantes, o artigo apresenta a forma como, ao longo da história, a elite intelectual do arquipélago construiu um discurso que atribui à mestiçagem a especificidade da identidade nacional. Ainda que influenciado pelas idéias de Gilberto Freyre, tal discurso, no entanto, visava a um distanciamento da herança negra estigmatizada, diferentemente da proposta de Freyre de valorização dos não-brancos. Levando em conta esse histórico, a investigação aponta como o contato com a sociedade brasileira atual, possibilitado pela experiência de estudo, favoreceu a construção de um olhar mais crítico em relação a esse discurso, ao mesmo tempo que houve uma ênfase na valorização de uma identidade afro-referenciada. Tal processo, entre outros motivos, aparentemente encontra relação com a implementação de políticas de identidade no Rio de Janeiro, estado que abriga a primeira universidade do país a adotar reserva de vagas para negros.

Abstract:

The paper is based on a research developed with students from the archipelago of Cape Verde, situated in the west coast of Africa. These students moved to Rio de Janeiro in order to get a college degree. The investigation, which resulted in a masters dissertation, focuses on the identity (re)construction processes experienced by those youngsters, most of whom identified by Brazilians as Blacks and Africans. In an attempt to contextualize the impact of this external categorization over these students, the paper shows how, historically, the Cape Verdean intellectual elite has constructed a speech that considers miscegenation as a national identity specificity. Even though being influenced by Gilberto Freyres ideas, this speech was intended to dissociate the Cape Verdeans from a stigmatized Black heritage, in opposition to Freyres intention to valorize non-whites. Considering this background, the research suggests that the contact with the current Brazilian society, made possible by the study experience, helped them to develop a more critical view regarding this speech, which occurred simultaneously to the valorization of an African identity. For this and other reasons, this process is apparently relatedto the implementation of identity policies in Rio de Janeiro, the first Brazilian state with a university establishing quotas for Black students.

Key words: Students. Cape Verdeans. Identities. Physical mobility. Ethnicity

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