Resumo
A língua gestual portuguesa (LGP) é uma língua estruturada e natural, devendo, por isso, ser a escolhida no processo de ensino-aprendizagem das crianças surdas portuguesas. No entanto, há a necessidade de expandir o seu conhecimento, sobretudo sobre as etapas de desenvolvimento e aquisição, dando especial atenção à consciência querológica ‒ estudo da apropriação e o processo de construção desta competência pela criança/sujeito. Apesar da necessidade de maior aprofundamento dessa temática, as evidências apontam que o seu desenvolvimento assume um papel importante no processo de aquisição da linguagem. Neste sentido, atendendo à escassez de informação científica sobre a temática, este artigo, em formato de revisão de literatura, propõe-se a abordar a aquisição da LGP, através da descrição detalhada dos seus estágios, bem como dos diferentes contextos de aquisição. A consciência querológica é, então, abordada no âmbito da sua aquisição, parâmetros e lacunas ‒ conceituais e metodológicas ‒, inerentes ao seu estudo e avaliação.
Referências
Afonso, M. (2011). Elementos para a construção de um teste de rastreio de perturbações do desenvolvimento sintático [Dissertação de Mestrado]. Universidade Nova de Lisboa.
Amaral, A. (2006). Perspectivas teóricas na aquisição da linguagem em crianças surdas. In M. Bispo, A. Couto, M. Clara, & L. Clara (org.), O Gesto e a Palavra I: Antologia de textos sobre a surdez (pp. 109-150). Lisboa: Caminho. ISBN: 9789722117913.
Amaral, A., & Coutinho, A. (2002). A criança surda: educação e inserção social. Análise Psicológica, 3, 373-378. doi: 10.14417/ap.324.
Amaral, I. (1999). Comunicação e linguagem. In F. Pereira (Cord.), O aluno surdo em contexto escolar. Apoios educativos (pp. 37-48). Ministério da Educação.
Augusto, M. (1995). Teoria gerativa e aquisição da linguagem. Sitientibus, 13, 115-120. http://www2.uefs.br/sitientibus/pdf/13/teoria_gerativa_e_aquisicao_da_linguagem.pdf
Basso, F. (2006). A estimulação da consciência fonológica e a sua repercussão no processo de aprendizagem da lecto-escrita [Dissertação de Mestrado]. Universidade Federal de Santa Maria, Brasil..
Batista, J., Santiago, A., Almeida, D., Antunes, P., & Gaspar, R. (2011). Programa de Português L2 para alunos surdos Ministério da Educação, Direção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular.
Batista, M. (2010). Alunos surdos: aquisição da língua gestual e ensino da Língua Portuguesa. Exedra, 9, 1-12.
Bellugi, U., Poizner, H., & Klima, E. (1989). Language modality and the brain. Trends in Neurosciences, 12(10), 380-388. doi: 10.1016/0166-2236(89)90076-3.
Carmo, H., Martins, M., Morgado, M., & Estanqueiro, P. (2007). Programa curricular de língua gestual portuguesa educação pré-escolar e ensino básico Ministério da Educação, Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular.
Carmo, P. (2010). Aquisição da língua gestual portuguesa: estudo longitudinal de uma criança surda dos 10 aos 24 meses [Dissertação de Mestrado]. Universidade Católica Portuguesa, Lisboa.
Carroll, J., Snowling, M., Hulme, C., & Stevenson, J. (2003). The development of phonological awareness in pre-school children. Developmental Psychology, 5(39) 913–923.
Chomsky, N. (1959). A review of B.F. Skinner's Verbal Behavior. Language, 35(I), 26-58.
Chomsky, N. (2006). Language and mind Cambridge: University Press. ISBN: 9780521674935.
Corina, D., Hafer, S., & Keaarnean, W. (2014). Phonological awareness for american sign language. Journal of Deaf Studies and Deaf Education 19(4), 530-45. doi: 10.1093/deafed/enu023.
Correia, I. (2009). O parâmetro expressão na Língua Gestual Portuguesa: unidade suprassegmental. Exedra, Revista Científica da Escola Superior de Educação de Coimbra, 1, 57-68.
Costa, D., Azambuja, L., & Nunes, M. (2002). Avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor. In M. Nunes, & A. Marrone (Eds), Semiologia Neurologica (pp. 351-360), Porto Alegre.
Crume, K. (2013). Teachers perceptions of promoting sign language phonological awareness in na ASL/English bilingual program. Journal of deaf studies and deaf education, 18, 464-488. doi: 10.1093/deafed/ent023;
Cruz, C. (2008). Proposta de instrumento de avaliação da consciência fonológica, parâmetro configuração de mão, para crianças surdas utentes da língua de sinais brasileira [Dissertação de Mestrado]. Porto Alegre, Rio Grande do Sul..
Cruz, C. (2018). Consciência fonológica da língua de sinais: implicações na linguagem e na leitura. Revel, edição especial, 15, 63-82. ISSN 1678-8931.
Diário da República. (2018, 6 jul.). Decreto-Lei n.º 54/2018 Regime Jurídico da Educação Inclusiva (1.ª série, n. 129, pp. 2918-2928).
Fernandes, E. (2003). linguagem e surdez Artmed Editora.
Franco, M., Reis, M., & Gil, S. (2003). Domínio da comunicação, linguagem e fala. Perturbações específicas de linguagem em contexto escolar: fundamentos Ministério da Educação.
Freitas, C. (2004). Sobre a consciência fonológica. In R. Lamprecht, Aquisição fonológica do português: perfil de desenvolvimento e subsídios para a terapia (pp. 177-192). Artmed.
Freitas, M., Alves, D., & Costa, T. (2007). PNEP – O conhecimento da língua: desenvolver a consciência fonológica Ministério da Educação. ISBN: 978-972-742-269-2..
Geffner, D., Harry L., Freeman L., & Gaffney R. (1978). Speech and language assessment scales of deaf children. Journal of Communication Disorders, 11(2-3), 215-226. Doi: 10.1016/0021-9924(78)90014-X.
Guimarães, C., & Campello, A. (2018). “Trocas nos sinais”: caracterização de processos fonológicos ocorridos durante a aquisição de Libras por pré-escolares surdos. Audiology Communication Research, 23, 1-6. doi: 10.1590/2317-6431-2017-1922.
Hoff, E. (2006). How social contexts support and shape language development. Developmental Review, 26, 55-88. doi :10.1016/j.dr.2005.11.002.
Hoffmeister, R. (1978). Word order in the acquisition of ASL Ms. Boston University.
Holmer, E., Heimann, M., & Rudner, M. (2016). Evidence of an association between sign language phonological awareness and word reading in deaf and hard-ofhearing children. Research in Developmental Disabilities, 48, 145-159. Doi: 10.1016/j.ridd.2015.10.008.
Johnson, S., & Newport, E. (1989). Critical periods effects in second language learning: the influence of maturational state on the acquisition of English as a second language. Cognitive Psychology, 21(1), 60-99. Doi: 10.1016/0010-0285(89)90003-0.
Karnopp, L. (1997). Aquisição fonológica da língua brasileira de Sinais. Letras de Hoje, 32(4), 147-162.
Karnopp, L. (1999). Aquisição fonológica da língua brasileira de Sinais: estudo longitudinal de uma criança surda [Dissertação de Doutoramento]. Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
Klima, E., & Bellugi, U. (1979). The signs of language Harvard University Press. ISBN 9780674807969.
Knudsen, E. (2004). Sensitive periods in the development of the brain and behavior. Journal of Cognitive Neuroscience, 16(8), 1412-1425. Doi: 10.1162/0898929042304796.
Lane, H., Hoffmeister, R., & Bahan, B. (1996). A journey into the deaf world Dawn Sign Publishers.
Lenneberg, E. (1967). Biological foundations of language With Appendices by Noam Chomksy and Otto Marx. Wiley.
Liddell, S., & Johnson, R. (1989). American sign language: the phonological base. Sign Lang Stud. 64(1), 195-277. Doi: 10.1353/sls.1989.0027.
Lillo-Martin, D. (1986). Parameter setting: evidence from use, acquisition, and breakdown in American Sign Language. [Tese de Doutorado]. University of California, San Diego. University Microfilms International. Ann Arbor. Michigan.
Lillo-Martin, D., Mathur, G., & Quadros, R. (1998). Acquisition of verb agreement in asl and libras: a cross-linguistic study. Abstracts of the sixth international conference on theoretical issues in sign language research (pp. 12-15). Gallaudet University.
Lima, L., & Queiroga, B. (2007). Aquisição fonológica em crianças com antecedentes de desnutrição. Revista CEFAC, 9(1), 13-20. Doi: 10.1590/S1516-18462007000100003.
Lima, R. (2000). Linguagem infantil Da normalidade à patologia APPCDM Distrital de Braga.
Lima, R. (2011). Fonologia infantil: aquisição, avaliação e intervenção Almedina. ISBN: 9789724037837.
Marentette, P. (1995). It’s in her hands: A case study of the emergence of phonology in American Sign Language ([Dissertação de Mestrado, Department of Psychology]. McGill University, Montreal.
McQuarrie, L., & Abbott, M. (2013). Bilingual deaf students’ phonological awareness in ASL and reading skills in english. Sign Language Studies, 14(1), 80-100. Doi: 10.1353/sls.2013.0028.
Meier, P. (2002). The acquisition of verb agreement: pointing out arguments for the linguistic status of agreement in signed languages. Directions in sign language acquisition, 115-141. Doi: https://doi.org/10.1075/tilar.2.08mei.
Meier, R. (1987). Elicited imitation of verb agreement in american sign language: iconically or morphologically determined? Journal of Memory and Language, 6(3), 362-376. Doi: 10.1016/0749-596X(87)90119-7.
Mineiro, A., Duarte, L., Carvalho, P., Tebé, C., & Correia, M. (2008). Aspectos da polissemia nominal em língua gestual portuguesa. Revista Polissema, 8, 37-56.
Neves, D., & Miranda, M. (s.d.). A criança surda e o desenvolvimento da linguagem. Educere ISSN 2176-1396.
Neville, H., & Bavelier, D. (2002). Human brain plasticity: evidence from sensory deprivation and altered language experience. Progress in Brain Research, 138, 177-188. Doi:10.1016/S0079-6123(02)38078-6.
Newport, E. (1988). Constraints on learning and their role in language acquisition: studies on the acquisition of american sign language. Language Science, 10(1), 147-172. Doi: 10.1016/0388-0001(88)90010-1.
Newport, E. (1990). Maturational constraints on language learning. Cognitive Science, 14, 11-28. Doi: 10.1207/s15516709cog1401_2;
Nóbrega, V. (2019). Línguas de sinais: abordagem teóricas e aplicadas. Revista Leitura., 1(57). http://www.seer.ufal.br/index.php/revistaleitura/article/download/2657/2874
Oliveira, J. (2015). Análise descritiva da estrutura querológica de unidades terminológicas do glossário Letras-Libras [Tese de Doutorado,. Programa de Pós-Graduação em Estudos de Tradução]. Universidade Federal de Santa Catarina, Santa Catarina.
Petitto, A., & Marantette, P. (1991). Babbling in the manual mode: Evidence for the ontogeny of language. Science, 251, 1483 - 1496.
Petitto, L. (1987). On the autonomy of language and gesture: Evidence from the acquisition of personal pronouns in American Sign Language. Cognition, 27(1), 1-52. Doi: 10.1016/0010-0277(87)90034-5;
Petitto, L., Zatorre, R., Gauna, K., Nikelski, E., Dostie, D., & Evns, A. (2000). Speech-like cerebral activity in profoundly deaf people processing signed languages: implications for the neural basis of human language. Proceedings of the National Academy of SSciences of the United States of America, 97(25), 13961-13966. Doi: 10.1073./pnas.97.25.13961.
Quadros, R. (1997). Educação de Surdos: a aquisição da linguagem Artmed.
Quadros, R., & Cruz, C. (2011). Língua de sinais: instrumentos de avaliação Artmed.
Quadros, R., Lillo-Martin, D., & Mathur, G. (2001). O que a aquisição da linguagem em crianças surdas tem a dizer sobre o estágio de infinitivos opcionais? Letras de Hoje, 36(3), 391-398.
Quadros, R., Cruz, R., & Pizzio, A. (2010). Desenvolvimento da língua de sinais: a determinação do input Trabalho apresentado no 8º congresso internacional da ISAPL (Society of applied psycholinguistics). Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Reis, V. (1997). A linguagem e seus efeitos no desenvolvimento cognitivo e emocional da criança surda. Espaço Informativo Técnico Científico do INES, 6, 23-38.
Rubio, S., & Queiroz, S. (2014). A aquisição da linguagem e integração social: a libras como formadora de identidade do surdo. Revista Eletrônica Saberes da Educação, 5(1), 1-15.
Santos, I., Melo, M., & Roazzi, A. (2016). Consciência fonológica e alfabetização em crianças brasileiras: como esta relação tem evoluído? Iniciação Científica Cesumar, 18(2), 211-221. Doi: 10.17765/1518-1243.2016v18n2p211-221" 10.17765/1518-1243.2016v18n2p211-221.
Schirmer, C., Fontoura, D., & Nunes, M. (2004). Distúrbios da aquisição da linguagem e da aprendizagem. Jornal de Pediatria Sociedade Brasileira de Pediatria 80(2), 95-103. Doi: 10.1590/S0021-75572004000300012.
Siedlecki, T., & Bonvillian, J. (1993). Location, handshape and movement: young children’s acquisition of the formational aspects of american sign language. Sign language studies, 78, 31-52. Doi: 10.1353/sls.1993.0016.
Silva, M. (1999). A construção do sentido da escrita do sujeito surdo [Dissertação de Mestrado]. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, São Paulo.
Silva, R. (2010). Língua gestual e bilinguismo na educação da criança surda. In Coelho, O. Um copo vazio está cheio de ar: assim é a surdez, (pp.101-145). Livpsic.
Sim-Sim, I. (1998). Desenvolvimento da linguagem Universidade Aberta.
Sim-Sim, I., Silva, A., & Nunes, C. (2008). Linguagem e Comunicação no jardim de infância: textos de apoio para educadores de infância Ministério da Educação, Direção - Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular.
Singleton, J., & Newport, E. (1994). When learners surpass their models: the acquisition of american sign language from inconsistent input. Cognitive Psychology, 49, 370-407. Doi: 10.1016/j.cogpsych.2004.05.001.
Spinassé, P. (2006). Os conceitos língua materna, segunda língua e língua estrangeira e os falantes de línguas alóctones minoritárias no Sul do Brasil. Revista Contingentia, 1, 1-10.
Stokoe, W. (1960). Sign and Culture: A reader for students of American Sign Language Listok Press, Silver Spring, MD.
Stokoe, W., Casterline, D., & Carl, A. (1976). A Dictionary of American Sign language on linguistic principles New Edition, Listok Press.
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Copyright (c) 2022 Pró-Posições