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Trajetórias Tecnológicas como Objeto de Política de Conhecimento para a Amazônia: uma metodologia de delineamento
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Palavras-chave

Amazônia. Desenvolvimento regional. Trajetórias tecnológicas. Desenvolvimento rural. Instituições.

Como Citar

COSTA, Francisco de Assis. Trajetórias Tecnológicas como Objeto de Política de Conhecimento para a Amazônia: uma metodologia de delineamento. Revista Brasileira de Inovação, Campinas, SP, v. 8, n. 1, p. 35–86, 2009. DOI: 10.20396/rbi.v8i1.8648975. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rbi/article/view/8648975. Acesso em: 28 mar. 2024.

Resumo

A relação entre o conhecimento apropriado no processo produtivo e as características atuais e possibilidades futuras de desenvolvimento de base agrária na Amazônia tem merecido uma rica reflexão entre policy makers e advisers em posições relevantes no campo científico e tecnológico. Reconhece-se, cada vez mais, que, para se fazer frente às grandes tensões por que passa a região mediante a crise ecológica por trás do aquecimento global, há a necessidade de subverter a produção de ciência e tecnologia e a atitude do estado, revertendo a abordagem em relação à região, daquela atual, que a considera uma economia de fronteira baseada em produtividade espúria (Fajnzylber, 1988; Egler, 2006), para outra que a trate como uma fronteira do capital natural (Becker, 2004). Disso faria parte a formação de uma matriz de conhecimento com nexos consistentes entre conhecimento tácito das populações tradicionais e conhecimento codificado (Sá, 2006) e a integração entre o universo da produção de mercadorias e o da produção de conhecimento, de modo a garantir a formação de clusters competitivos de produtos e serviços baseados no uso sustentável dos recursos naturais (Vieira, 2006). Utilizando as noções de paradigmas tecnológicas e de desenvolvimento dependente de trajetória (Dosi, 2006; Arthur, 1994), o artigo procura tornar claras as dificuldades de tal reviravolta: uma vez que entre uma sociedade baseada em economia de fronteira e uma sociedade que seja fronteira de capital natural, há o abismo cognitivo criado pela razão industrialista e seus padrões de relação com a natureza, na forma de um paradigma de modernização industrial da agricultura, poderoso de muitos modos; uma vez que, também, entre instituições de acúmulo de conhecimento tácito e as de conhecimento codificado há a incongruência de suas respectivas matrizes, desde a profunda distinção nas percepções de sujeito e objeto até a visão de finalidade e sentido; uma vez que, finalmente, nos clusters e aglomerados locais residem assimetrias profundas, em que os paradigmas e padrões de relação com a natureza e a natureza dos paradigmas organizacionais consolidam práxis e atitudes profundamente distintivas – dos sujeitos da produção material entre si e entre estes e os sujeitos da formação e do controle do conhecimento. Com resultados da aplicação de técnicas de análise fatorial e de componentes principais aplicadas a uma base especial de dados do Censo agropecuário de 1995-1996 regionalizados em nível de microrregião, o artigo delimita seis trajetórias tecnológicas na Amazônia. Nelas as diferenças são especificadas a partir da diversidade estrutural e dos tipos de agentes. Verificam-se, isso posto, a importância social, a coerência com os critérios privados dominantes, as características tecnológicas expressas nas disponibilidades de capital físico e nas relações com os fundamentos naturais disponíveis, além do grau de favorecimento em relação aos mecanismos da política agrária. Expostas as trajetórias e suas posições paradigmáticas, a capacidade respectiva de concorrência e dinâmica demonstrada nos últimos dez anos, o artigo discute opções estratégicas, indicando a necessidade de esforços institucionais objetivos para tornar mais consistentes os fundamentos das trajetórias que poderiam favorecer um desenvolvimento com maior esperança de sustentabilidade (social e ambiental).
https://doi.org/10.20396/rbi.v8i1.8648975
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