Resumo
Os problemas sobre a formação do leitor de textos literários são inúmeros e têm se adensado nos últimos anos. A reflexão proposta sobre esse amplo e complexo panorama da educação literária se dá em torno das polêmicas que acompanharam a publicação dos documentos oficiais - PCN, PCNEM e Orientações Curriculares Nacionais -, expressas em “Literatura”, de Enid Yatsuda Frederico e Haquira Osakabe (2004). A discussão percorre alguns dos questionamentos de Rildo Cosson (2009), Graça Paulino (2002) e Todorov (2009), quando se debruçam sobre as práticas pedagógicas desenvolvidas nas últimas décadas, fazendo reverberar vozes e letras tão antigas como as da professora Lígia Chiappini, ao publicar já em 1983 sua Invasão da catedral: literatura e ensino em debate. A perspectiva assumida é a de que há um progressivo afastamento entre o público e as obras e que ele acontece, ironicamente, por meio das relações entre literatura e ensino. Vê-se nos espaços escolares, acadêmicos a preocupação com a história e as correntes literárias, a biografia dos escritores, as fortunas críticas e, não, com a leitura dos textos literários. Nesse contexto, a literatura, para falar com Todorov (2009), fica em perigo, porque colocada dentro de um ciclo vicioso: os professores vivenciam cada vez menos o texto literário e, com isso, suas práticas são cada vez menos empenhadas na formação do leitor literário. O empobrecimento na educação literária revela-se como um impasse de difícil superação, tratado aqui como um eixo em torno do qual se desdobram os problemas do ensino da literatura. Trata-se da formação inicial e continuada docente, que pouco avançou no que diz respeito à formação dos professores como leitores literários. A aposta é a de que professores com experiências literárias vivas transformam gradativamente as práticas pedagógicas assumidas no cotidiano escolar.Referências
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