Resumo
O presente ensaio propõe um diálogo entre o pouco conhecido livro de Nestor Vitor, Paris: impressões de um brasileiro, publicado pela primeira vez em 1911, e a bastante influente obra de Pascale Casanova, A República Mundial das Letras, de 1999. Argumenta-se que a reflexão de Nestor Vitor a respeito da natureza das narrativas de viagens pode servir como uma crítica, a partir do sul, das noções de literatura mundial e cosmopolitismo apresentadas por Casanova. Além disso, pode apresentar estratégias não nacionalistas de se afirmar culturas locais, considerando-se que o autor brasileiro propõe o desenvolvimento de uma produção vernácula acompanhada da constituição de públicos periféricos. Em outras palavras, analisando-se como conhecimentos globais são produzidos e organizados, e identificando-se a desigualdade no controle de um chamado acervo mundial, o livro de Nestor Vitor oferece uma crítica do processo legitimador da produção do conhecimento.
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