Resumo
Os conceitos de “trapaça da linguagem” e o de “véu” presentes, respectivamente, na Aula de Roland Barthes e no ensino de Jacques Lacan, parecem-nos fornecer elementos para melhor compreensão da modernidade do gênero ensaio como uma forma de escritura que joga com o leitor, valendo-se, fundamentalmente, de uma suposta experiência vivida pelo narrador que se anuncia em uma primeira pessoa - je. Nesse sentido, procuro nesse artigo, a partir de momentos esparsos da escritura de Marcel Proust, observar como ela se enleia ao gênero ensaístico a partir de um jogo enunciativo de um je que se serve de uma suposta experiência a fim de convencer seu leitor, mas que se alicerça na própria ficção.
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