Resumo
Este ensaio procura recuperar a “teoria da dependência” como uma matriz para pensarmos o continente latino-americano tanto em sua parte lusófona como hispânica. Um debate que preza o diálogo e articula tanto o nacional como o continental e o global, os desenvolvimentos culturais pensados em torno da noção de dependência podem ser uma maneira para se combater a divisão histórica que separa as histórias intelectuais do Brasil e de seus vizinhos; uma divisão que foi apontada por Júlio Schwartz em seu ensaio “Abaixo Tordesilhas!”. A partir dos dois desenvolvimentos culturais mais conhecidos deste debate, “As ideias fora do lugar”, de Roberto Schwarz, e “colonialidade do poder”, de Aníbal Quijano, discuto as possibilidades que o estudo comparativo de modelos teóricos abre para que repensemos nossas matrizes nacionais de formas mais inclusivas. Isto é, ao compararmos modelos teóricos pensados para o Brasil e o Peru precisamos repensar, diante dos diferentes contextos, certas ênfases e insights que pareciam lógicos em nosso contexto particular mas que são desafiados diante de novas realidades. Ademais, este ensaio defende a necessidade de recuperarmos matrizes teóricas como a da dependência em um momento em que teorias sistêmicas da literatura voltaram a ser discutidas no debate literário internacional por críticos como Franco Moretti e Pascale Casanova.
Referências
AMANTE, Adriana. Poéticas y políticas del destierro: argentinos en Brasil en la época de Rosas. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2010.
CARDOSO, Fernando Henrique. As ideias e seu lugar: ensaios sobre as teorias do desenvolvimento. Petrópolis: Vozes, 1993.
CARDOSO, Fernando Henrique; FALETTO, Enzo. Dependência e desenvolvimento na América Latina. Rio de Janeiro: Zahar, 1973.
CASTRO, Eduardo Viveiros de. Cosmological Deixis and Amerindian Perspectivism. The Journal of the Royal Anthropological Institute, Londres, n. 4.3, p. 469-488, set. 1998.
JAMESON, Fredric. The Modernist Papers. Nova York: Verso, 2007.
MARIÁTEGUI, José Carlos. Siete ensayos de interpretación de la realidad peruana. Barcelona: Editorial LinKgua, 2011.
MIGNOLO, Walter. The Geopolitics of Knowledge and The Colonial Difference. In: Coloniality at Large: Latin America and the Postcolonial Debate (org.: Mabel Moraña; Enrique Dussel; Carlos A. Jáuregui). Durham: Duke University Press, 2008, p. 225-258.
MORETTI, Franco. Conjectures on World Literature. In: Debating World Literature (org.: Christopher Prendergast). Nova York: Verso, 2004, p. 148-163.
QUIJANO, Aníbal. Colonialidad del poder, eurocentrismo y América Latina. In: La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales (org.: Edgardo Lander). Buenos Aires: CLACSO, 2000, p. 201-246.
QUIJANO, Aníbal; WALLERSTEIN, Imannuel. La americanidad como concepto, o América en el moderno sistema mundial. Revista Internacional de Ciencias Sociales, Paris, n. 134, p. 583-591, dez. 1992.
SALDAÑA-PORTILLO, María. The Revolutionary Imagination in the Americas and the Age of Development. Durham: Duke UP, 2003.
SANTIAGO, Silviano. Apesar de dependente, universal. In: SANTIAGO, Silviano. Vale quanto pesa. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 1980, p. 13-24.
SCHWARTZ, Jorge. Abaixo Tordesilhas! Estudos Avançados, São Paulo, n. 7.17, p. 185-200, abr. 1993.
SCHWARZ, Roberto. As ideias fora do lugar. In: SCHWARZ, Roberto. Ao vencedor as batatas. São Paulo: Duas Cidades, 1981, p. 13-28.
SCHWARZ, Roberto. Nacional por subtração. In: SCHWARZ, Roberto. Que horas são? São Paulo: Companhia das Letras, 1987, p. 29-48.
SCHWARZ, Roberto. Um seminário de Marx. In: SCHWARZ, Roberto. Sequências brasileiras. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, p. 86-105.
O periódico Remate de Males utiliza a licença do Creative Commons (CC), preservando assim, a integridade dos artigos em ambiente de acesso aberto.