Resumo
Desde sua primeira publicação em 1931 até a morte de Raul Bopp, em 1984, Cobra Norato foi apresentado em oito diferentes versões. Quando se compara essas versões, logo se percebe que as alterações feitas pelo poeta foram contínuas, às vezes profundas e, mais do que isso, se relacionam de diferentes maneiras com a própria natureza do poema. Por outro lado, a crítica em torno de Cobra Norato, se já nas primeiras resenhas logo reconheceu a existência dessas alterações, jamais buscou compreender a sua natureza e as possíveis consequências desse singular procedimento. A partir de um comentário de Drummond, publicado em 1947, até as reflexões mais recentes sobre o poema, esse caráter metamórfico de Cobra Norato foi negligenciado ou diminuído, em privilégio sempre de uma única edição, tomada sempre como definitiva. O presente artigo, se não tem a ambição de fazer uma análise detalhada de todas as versões do poema, se propõe a especular sobre algumas das causas e dos efeitos dessas transformações, assim como discutir aspectos da singularidade do procedimento de Bopp. E defender a hipótese de que as contínuas alterações feitas pelo poeta são o princípio formal que potencializa as metamorfoses do poema, que também troca de pele como a própria cobra do mito.
Referências
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