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Nenhuma Bulgária existe
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Palavras-chave

Campos de Carvalho
Relato de viagem
Inexistência.

Como Citar

ROSA, Victor Luiz da. Nenhuma Bulgária existe: viagem e inexistência em O púcaro búlgaro, de Campos de Carvalho. Remate de Males, Campinas, SP, v. 39, n. 1, p. 389–402, 2019. DOI: 10.20396/remate.v39i1.8652490. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/remate/article/view/8652490. Acesso em: 26 abr. 2024.

Resumo

O artigo analisa o último romance de Campos de Carvalho, O púcaro búlgaro (1964), por meio das noções de viagem e inexistência. E procura mostrar algumas consequências críticas e narrativas do impasse entre a promessa de uma “expedição ao fabuloso reino da Bulgária” – feita pelo narrador logo de saída com a eloquência de um viajante tarimbado – e seu constante adiamento ao longo do romance. Por meio de um estilo na maioria das vezes inexato e fabuloso, sempre verborrágico e exagerado, o narrador dessa expedição torna-se complexo não por dominar o assunto que supostamente é objeto de seu interesse (o púcaro búlgaro) e sim porque, ao contrário, ele gira no vazio. E nesse giro só pode “devanear sobre o nada”, como ele próprio diz, enquanto não atina para a razão de escrever o diário. Tal impasse, de um lado, dialoga de modo crítico e irônico com certa tradição dos relatos de viagem à medida que se apropria de alguns dos seus pressupostos, como a confiabilidade do narrador e a obsessão pelas classificações, para fazer deles objeto de piada; de outro, na tentativa de realizar um romance altamente experimental, toma de empréstimo o princípio que Breton formula no “Manifesto do surrealismo”, segundo o qual a “existência está em outro lugar”, ou seja, na Bulgária, que não existe. Desse modo, o romance de Campos de Carvalho poderia ser pensado como uma experiência de desarme da nossa maneira de ler os relatos de viagem nacionais, ao mimetizar tais narradores e expor – ao ridículo – os seus limites. É a hipótese que se propõe.

https://doi.org/10.20396/remate.v39i1.8652490
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Referências

BRETON, André. Manifesto do surrealismo. In: TELES, Gilberto Mendonça (Org.). Vanguarda europeia e modernismo brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1978, pp. 168-202.

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CARVALHO, Campos de. O púcaro búlgaro. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008.

CARVALHO, Campos de. A lua vem da Ásia. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.

FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas. Trad. Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

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SUSSEKIND, Flora. O Brasil não é longe daqui. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

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