Resumo
Este artigo apresenta uma discussão teórica sobre o valor heurístico dos instrumentos descritivos da cidade nas pesquisas sobre as ambiências situadas, a partir de uma reflexão sobre o corte urbano e o modelo epistemológico que Carlo Ginzburg chamou de “indiciário”. Essa reflexão foi realizada no âmbito de uma pesquisa de campo interdisciplinar sobre o problema da coleta de lixo doméstico na cidade de São Paulo, Brasil. Primeiramente, buscamos caracterizar os elementos dispersos e heterogêneos – relativos aos sujeitos e ao espaço construído – que o corte permite reunir enquanto “pistas” que permitem visualizar uma ambiência, concebida enquanto unidade. Em seguida, discutimos o estatuto teórico dessa unidade, pensada como estrutura. Introduzimos, para tanto, a distinção entre objeto real e objeto de conhecimento, formulada em inícios do século XX pelo fundador da linguística moderna, Ferdinand de Saussure. Nosso intuito é com isso evitar uma concepção de espaço baseada em uma ideia substancialista de “totalidade”. A partir dessas considerações, definiremos o corte não como uma “representação do espaço” (um objeto real), mas como o “registro de um olhar” sobre ele (um objeto teórico). Por último, enquanto tecnologia de escrita, o corte será caracterizado como uma ferramenta para a fabricação de um olhar compartilhado sobre a cidade. Nesse sentido, ele pode contribuir para estabelecer um terreno comum de debate entre os diversos e heterogêneos campos disciplinares e registros de saber sobre a experiência sensível convocados pela noção de ambiência.
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