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Sanção em Fonoaudiologia: um modelo de organização dos sintomas de linguagem
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Palavras-chave

Fonoaudiologia. Psicanálise. Linguística.

Como Citar

GOUVÊA, Gisele; FREIRE, Regina Maria Ayres de Camargo; DUNKER, Christian Ingo Lenz. Sanção em Fonoaudiologia: um modelo de organização dos sintomas de linguagem. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, SP, v. 53, n. 1, p. 7–26, 2011. DOI: 10.20396/cel.v53i1.8636541. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cel/article/view/8636541. Acesso em: 29 jun. 2024.

Resumo

Este artigo tem como objetivo apresentar o esboço de um modelo de organização dos sintomas em Fonoaudiologia, no quadro de uma hipótese de multiestratificação lingüística do inconsciente. Postulamos que os sintomas de linguagem pertencem a uma estrutura complexa de múltiplos estratos e interestratos sucessivos e superpostos que operam por contradição, oposição e diferença. Esta estrutura contém os intervalos espaciais, temporais e lógicos da linguagem, formando uma espécie de grade topológica dividida esquematicamente nos eixos horizontais - escrita, língua e fala – em relação aos eixos verticais – sujeito, Outro, metáfora e metonímia. Nossa hipótese é de há que um meta-procedimento, presente na clínica fonoaudiológica de modo constitutivo e característico, a que chamamos de sanção. Traduzir, transcrever e transliterar são formas diferentes de sancionar um sintoma de linguagem. Observamos que os sintomas de linguagem, embora emergindo predominantemente em um sobre os outros eixos, criam uma desarmonia de todo o sistema. Esta desarmonia é própria do funcionamento ordinário da linguagem. Os sintomas de linguagem são apenas exagerações ou restrições deste processo. Isto posto, isolamos o eixo da escrita como aquele que sustenta primariamente a tipologia proposta, ou seja, seria na relação sujeito falante-escrita que se constituiriam os tipos clínicos. Assim, se o sintoma de fala, por sua estrutura de sanção, responde à estratégia de tradução, teríamos um tipo clínico que levaria ao privilégio de uma estratégia no manejo terapêutico. Isto porque supusemos que a mudança no manejo da sanção impõe outros modos à estrutura de funcionamento da linguagem. O segundo tipo responderia à estratégia da transcrição e, o terceiro, à estratégia da transliteração. Concluímos que esta proposta está sujeita à validação, tanto pela experiência clínica como pela contra argumentação teórica. Mas nos parece um caminho promissor que poderá dotar a práxis fonoaudiológica de um estatuto clínico, tornando-a singular.
https://doi.org/10.20396/cel.v53i1.8636541
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