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Uma abordagem não-dicotomizante das questões de linguagem na doença de Parkinson: as hesitações
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Palavras-chave

Doença de Parkinson. Discurso. Hesitação.

Como Citar

NASCIMENTO, Julyana Chaves; CHACON, Lourenço. Uma abordagem não-dicotomizante das questões de linguagem na doença de Parkinson: as hesitações. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, SP, v. 60, n. 2, p. 452–471, 2018. DOI: 10.20396/cel.v60i2.8649696. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cel/article/view/8649696. Acesso em: 17 jul. 2024.

Resumo

Neste artigo, fazemos uma reflexão sobre fatos de linguagem que ocorrem em sujeitos cérebro-lesados. Para tanto, retomamos o modo como a literatura biomédica tem estudado os problemas de fala na doença de Parkinson. Identificamos, nessa literatura, dissociações, por exemplo, entre linguagem e fala, entre aspectos tidos como motores e o que seriam outros aspectos da fala/linguagem. Com base na proposta de Coudry (1988; 2002) sobre a complexidade da inter-relação entre cérebro e linguagem, problematizamos essas dissociações. Com o objetivo de mostrar associações entre aspectos motores e discursivos na doença de Parkinson, analisamos hesitações na conversação entre um sujeito parkinsoniano e um sujeito pesquisador. Entendemos a hesitação como acontecimento discursivo relacionado ao processo de constituição do sujeito e ao processo de constituição do discurso. Baseados em ideias de Authier-Revuz, supomos que, como forma de heterogeneidade mostrada, a hesitação indicia a negociação do sujeito com os múltiplos outros constitutivos do discurso. Na análise, observamos que a hesitação indicia momento de mudança de posição do sujeito, bem como momento em que o outro discursivo saúde/doença poderia irromper/irrompe na cadeia discursiva. Observamos também a presença de aspectos motores, no plano articulatório da fala, na ocorrência da hesitação. Destacamos, porém, que esses aspectos de base motora se mostram submetidos a fatos discursivos, o que mostra, no aparecimento da hesitação na fala de sujeitos parkinsonianos, que as questões de linguagem nesses sujeitos mais apontam para funcionamentos integrados do que para funcionamentos específicos nas relações entre cérebro e linguagem.
https://doi.org/10.20396/cel.v60i2.8649696
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