Banner Portal
O sistema aspecto-temporal da língua karitiana
PDF

Palavras-chave

Tempo
Aspecto
Semântica formal
Línguas indígenas

Como Citar

MÜLLER, Ana; FERREIRA, Luiz Fernando. O sistema aspecto-temporal da língua karitiana. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, SP, v. 62, n. 00, p. e020012, 2020. DOI: 10.20396/cel.v62i0.8658731. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cel/article/view/8658731. Acesso em: 20 abr. 2024.

Resumo

Este artigo apresenta uma visão panorâmica sobre a semântica temporal e  aspectual em Karitiana (Tupi). Apesar das investigações já existentes (STORTO, 2002; 2013 CARVALHO, 2009; ROCHA, 2018), esse sistema aspecto-temporal ainda não é bem compreendido e há questões que precisam ser respondidas. A língua possui sufixos verbais que distinguem futuro de não-futuro e auxiliares aspectuais que marcam os aspectos imperfeito-progressivo, perfeito e prospectivo. O objetivo geral deste artigo é aprofundar nosso entendimento em relação à semântica do sistema temporal e aspectual da língua Karitiana. Respondemos a duas questões que não foram enfocadas anteriormente pela literatura sobre a língua: (i) se a semântica da flexão de não-futuro seria ambígua ou subespecificada; (ii) qual seria o status da flexão de futuro - marca de tempo, de modo ou de aspecto?. Além disso, apontamos uma correlação tipologicamente desconhecida entre sentenças matrizes afirmativas e a ocorrência de flexão temporal. A relevância dessa descrição se dá na medida que ela ajuda a ampliar o nosso conhecimento de como as categorias de tempo e de aspecto funcionam em línguas pouco exploradas pela linguística formal. O artigo assume os pressupostos da semântica formal para a investigação do tempo e do aspecto. Nosso corpus é formado principalmente por sentenças coletadas com falantes nativos através de elicitação de dados contextualizada (MATTHEWSON, 2004; SANCHEZ-MENDES, 2014). Em nossa análise, argumentamos que a flexão de não-futuro é ambígua, ou seja, ela pode denotar o presente ou o passado, mas não ambos simultaneamente. Assumimos também que o sufixo de futuro é uma flexão temporal legítima, e não uma flexão modal ou aspectual (ABUSCH, 1998). Em relação à restrição do auxiliar progressivo tykat, que não pode coocorrer com a flexão de passado, argumentamos que este sufixo aspectual possui codificado lexicalmente em sua semântica a informação de que seu tempo do tópico deve ser posterior ou igual ao tempo da fala.

https://doi.org/10.20396/cel.v62i0.8658731
PDF

Referências

ABUSCH, D. Generalizing tense semantics for future contexts. In: ______ Events and grammar. Dordrecht: Springer, 1998. p. 13-33.

ALEXANDRE, T. C. Os evidenciais em Karitiana. São Paulo: Dissertação (mestrado) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, 2016.

ANCHIETA, J. D. 1595. Arte de grammatica da lingoa mais usada na costa do Brasil. Coimbra: [s.n.], 1874.

BYBEE, J.; PERKINS, R.; PAGLIUCA, W. The Evolution of Grammar - Tense, Aspect, and Modality in the languages of the World. Chicago: The University of Chicago Press, 1994.

CABLE, S. An Introduction to the Semantics of Aspect and Aktionsart. Class handout for the seminar on Semantic Variation in Tense and Aspect. Amherst: [s.n.]. 2015. p. 1-16.

CAMPBELL, L.; GRONDONA V. (eds) The Indigenous Languages of South America. A Comprehensive Guide. Berlin: De Gruyter Mouton, 2012.

CAMPBELL, L. Typological characteristics of South American indigenous languages. In: CAMPBELL, L.; GRONDONA, V. (eds.), 2012. p. 259-330.

CARVALHO, A. M. O auxiliar aspectual tyka do Karitiana. Revista Letras, Curitiba, maio/ago p. 147-163, 2009.

CARVALHO, A. M. O auxiliar aspectual tyka do Karitiana. São Paulo: Dissertação (mestrado) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2010.

COMRIE, B. Tense. Cambridge: Cambridge University Press, v. 17, 1985.

CUSIHUAMAN, A. Gramática Quechua: Cuzco-Collao. Lima: Ministerio de Educación, 1976.

DIAS, T. A. As construções de cópula da língua Karitiana. Dissertação (mestrado) - Universidade de São Paulo, 2019.

DAHL, Ö. Tense and Aspect Systems. Oxford: Blackwell, 1985.

EVERETT, C. Patterns in Karitiana: Articulations, Perception and Grammar. Ph.D. Dissertation. Houston: Rice University, 2006.

FERREIRA, L. F. Modo em Karitiana. São Paulo: Dissertação (mestrado) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2017a.

FERREIRA, L. F. Karitiana: Uma língua com dupla marcação de modo. Anais do X Congresso Internacional da ABRALIN, Niterói, 2017b. p. 272-282.

FERREIRA, M. Displaced Aspect in Counterfactuals: Towards a More Unified Theory of Imperfectivity. In: CRNIC, L.; SAUERLAND, U. The Art and Craft of Semantics: A Festschrift for Irene Heim. Cambridge: MIT Working Papers in Linguistics 70, v. 1, 2014. p. 147-164.

FERREIRA, M. The Semantics Ingredients of Imperfectivity in Progressives, Habituals, and Counterfactuals. Natural Language Semantics, v. 24 p. 353-397, 2016.

GIJN, R.; GALUCIO, A. V.; NOGUEIRA, A. F.. Subordination strategies in Tupian languages. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, v. 10, n. 2, 2015. p. 297-324.

JÓHANNSDÓTTIR, K.; MATTHEWSON, L. Zero-marked Tense: The case of Gitxsan. Proceedings of NELS 37. [S.l.]: [s.n.]. 2007.

KLEIN, W. Time in Language. London: Routledge, 1994.

KRATZER, A. More Structural Analogies Between Pronouns and Tenses. Proceedings of SALT 8, Amherst, 1998. p. 92-110.

LANDIN, D. An outline of Syntatic Structure of Karitiana Sentences. Estudos sobre línguas Tupi do Brasil, 1984.

MATTHEWSON, L. On the methodology os semantic fieldwork. International Journal of American linguistics, 70, p. 369-415, 2004.

MATTHEWSON, L. Temporal semantics in a superficially tenseless language. Linguistics and Philosophy, v. 29, p. 673-713, 2006.

MÜLLER, A.; BERTUCCI, R. O aspecto e a interpretação de presente em línguas passado/não-passado versus futuro/não-futuro. In: PILATI, E.; MOREIRA, B. Estudos Formalistas das Línguas Naturais. 1ª. ed. Campinas: Pontes, 2018. p. 11-48.

REICHENBACH, H. The tenses of verbs. In: ______ Elements of symbolic Logic. New York: The Macmillan Company, 1947. p. 287-298.

ROCHA, I. Não-finitude em Karitiana: subordinação versus nominalização. 2016. Tese de doutorado, USP, São Paulo, 2016.

ROCHA, I. Interpretação temporal em orações não-finitas em Karitiana: a contribuição do aspecto. Congresso da associação de linguística e filologia da américa latina - ALFAlito, 2018.

RODRIGUES, A. Línguas Brasileiras: para o conhecimento das línguas indígenas. São Paulo: Loyola, 1986.

RODRIGUES, A.; CABRAL A. S. Tupían. In: CAMPBELL, L.; GRONDONA (eds). The indigenous languages of South America: a comprehensive guide, v. 2, 2012. p. 495-574.

SANCHEZ-MENDES, L. Trabalho de campo para análise linguística em semântica formal. Revista Letras, Curitiba, p. 277-293, 2014.

SEKI, L. Gramática do Kamaiurá - Língua Tupi-Guarani do Alto Xingu. Campinas, SP: Ed. da UNICAMP; SP: Imprensa Oficial, 2000.

STORTO, L. Algumas categorias funcionais em Karitiana. Encontro internacional de grupos de trabalho sobre línguas indígenas. Línguas Indígenas Brasileiras: Fonologia, gramática e história, 2002. p. 151-164.

STORTO, L. R. Aspects of a Karitiana Grammar. Cambridge: Massachusetts Institute of Technology, 1999.

STORTO, L. R. Copular Constructions in Karitiana: a case against case movement. University of Massachusetts Occasional Papers 41, 2010. p. 205-226.

STORTO, Luciana. Subordination in Karitiana. In: PACHECO, Frantomé; QUEIXALÓS, Francisco; WETSELZ, Leo; TELLES, Stella (Ed.). Subordination in Amazonian Languages. Paris: Brill's Studies in the Indigenous Languages of the Americas, 2012.

STORTO, L. R. Temporal and aspectual interpretations in non-finite clauses. Time and TAME in language. Newcastle upon Tyne: Cambridge Scholar Publishing, 2013.

STORTO, L. R.; ROCHA, I. Inventário sociolinguístico da Língua Karitiana. [S.l.]: INDL (Inventário Nacional da Diversidade Linguística), IPHAN-MPEG, 2018.

SUN, H. Temporal Construals of Bare Predicates in Mandarin Chinese. Netherlands: Ph.D. Thesis, Universiteit Leiden, 1980.

Creative Commons License

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.

Copyright (c) 2020 Cadernos de Estudos Lingüísticos

Downloads

Não há dados estatísticos.