Banner Portal
‘Ota bruxa?’
PDF

Palavras-chave

Aquisição fonológica
Sílaba
Ataque ramificado

Como Citar

TONI, Andressa. ‘Ota bruxa?’: modelando a relação entre variação linguística e aquisição dos ataques ramificados via princípio da tolerância. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, SP, v. 64, n. 00, p. e022025, 2022. DOI: 10.20396/cel.v64i00.8668890. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cel/article/view/8668890. Acesso em: 18 abr. 2024.

Resumo

Esta pesquisa revisita a aquisição das sílabas de ataque ramificado CCV (Consoante1+Consoante2+Vogal) em Português Brasileiro, investigando como o molde silábico é categorizado ao longo do desenvolvimento fonológico infantil e por que este desenvolvimento ocorre da forma que ocorre. Para caracterizar o alvo sendo adquirido, um estudo de corpus descreve a variação CCV→CV presente na fala de adultos paulistanos (como em ‘outro’→[ʹo.tʊ]) utilizando dados do Projeto SP2010 (MENDES, 2013). Já para caracterizar o desenvolvimento infantil, conduzimos um experimento de produção e compreensão de fala (mispronunciation detection task). Como arcabouço teórico, o Princípio da Tolerância (YANG, 2016) modela a construção do contraste entre as estruturas CCV-CV, estabelecido com base no adensamento fonológico do Léxico (JUSCZYK, LUCE & LUCE, 1994). O estudo constata que, ao adquirir CCV, a criança adquire uma sílaba fonologicamente pouco densa, foneticamente variável e suscetível a processos de neutralização do contraste CCV-CV. Defendemos que tais características do input levam a uma incorreta generalização de CCV como opcional, tomando CV como uma forma alternante – tanto em contextos átonos (o que é encontrado na fala adulta) como em contextos tônicos (que não ocorre na fala adulta paulistana). A produtividade desta hipergeneralização é capturada pelo Princípio da Tolerância e decorre da alta concentração de CCVs reduzíveis no vocabulário inicial da criança, sendo superada com o crescimento lexical. A hipergeneralização da variação CCV~CV reflete-se no teste de detecção de erros apontando reconhecimento de CV→CCV (‘dente’→‘d[ɾ]ente’), mas não de CCV→CV (‘prato’→’pato’, ‘preto’→’peto’) por crianças que simplificam CCV em sua fala. A maior taxa de detecção de vizinhos CCV-CV no teste (‘prato’→‘pato’ é mais detectado que ‘preto’→‘peto’) aponta a construção do contraste como um ponto-chave no desenvolvimento fonológico. Com isso, argumentamos que a aquisição CCV passa por um momento de incorreta neutralização do contraste estrutural da sílaba.

https://doi.org/10.20396/cel.v64i00.8668890
PDF

Referências

AGOSTINHO, A. L; SOARES, E; MENDES, M. C. Merging of quasi- phonemes In contact situations: Evidence from rhotics In Principense Portuguese. Trabalho apresentado no Annual Meeting on Phonology 2020. Santa Cruz: University of California, Santa Cruz, 18-20 de setembro, 2020

AMORIM, C. Padrão de Aquisição de Contrastes do PE: a interação entre traços, segmentos e sílabas. Tese (Doutoramento em Linguística) - Faculdade de Letras, Universidade do Porto, 2014.

ARAUJO, G.; GUIMARÃES-FILHO, Z.; OLIVEIRA, L. VIARO, M. As proparoxítonas e o sistema acentual do Português. In: O acento em Português: Abordagens Fonológicas. São Paulo: Parábola, 2007, p. 31-60.

BENEVIDES, Aline de Lima; GUIDE, Bruno. Corpus ABG (2016). Disponível em: https://github.com/SauronGuide/corpusABG. Acesso em: 1/05/2020

BROWN, C.; MATTHEWS, J. The role of feature geometry in the development of phonemic contrasts. In: HANNAHS, S. J.; YOUNG-SCHOLTEN, M. (Ed.). Generative Studies in the Acquisition of Phonology. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 1997. p. 67-112

CUI, A. The Emergence of Phonological Categories. Tese (Doutorado em Linguística). Universidade da Pensilvânia, FIladélfia, 2020.

CYCHOSZ, M. Functional load and frequency predict consonant emergence across five languages. UC Berkeley PhonLab Annual Report 13, 2017.

EDWARDS, J., BECKMAN, M. E. Some cross-linguistic evidence for modulation of implicational universals by language-specific frequency effects in phonological development. Language Learning and Development, v. 4, n. 2, p. 122-156, 2008.

FIKKERT, P. Developing representations and the emergence of phonology: Evidence from perception and production. Laboratory phonology, v. 10, n. 4, p. 227-255, 2010.

FREITAS, Maria João; FROTA, Sonia; VIGÁRIO, Marina; MARTINS, Fernando. Efeitos prosódicos e efeitos de frequência no desenvolvimento silábico em Português Europeu. In: XX Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística. Textos Seleccionados. Lisboa: Colibri, 2006, p. 397-412

GROLLA, E. Metodologias experimentais em aquisição da linguagem. Estudos da Língua(gem), v. 7, n. 2, p. 9, 2009.

JAKOBSON, R., FANT, G., HALLE, M. Prelimiaries to speech analysis. Cambridge: MIT Press, 1952.

JAROSZ, G. Defying the stimulus: Acquisition of complex onsets In Polish. Phonology, v. 34, n. 2, p. 269-298, 2017.

JUSCZYK, P. W; LUCE P. A.; LUCE J. C. Infants' sensitivity to phonotactic patterns in the native language. Journal of Memory and Language, v. 33, p. 630–645, 1994.

LAMPRECHT, R. R. A aquisição da fonologia do Português na faixa etária dos 2; 9-5; 5. Letras de Hoje, v. 28, n. 2, 1993.

MENDES, R.B. (2013) Projeto SP2010: Amostra da fala paulistana. Disponível em: http://projetosp2010.fflch.usp.br. Acesso em: 14/01/2022.

MIRANDA, I. C. C. Aquisição e variação estruturada de encontros consonantais tautossilábicos. Tese (Doutorado em Linguística), Belo Horizonte, UFMG, 2007.

MIRANDA, I; CRISTÓFARO-SILVA. Aquisição de encontros consonantais tautossilábicos: uma abordagem multirrepresentacional. Revista Linguíʃtica [Online], 7.1, 2011.

OLIVEIRA, N. A. Variação em encontros consonantais tautossilábicos no português brasileiro. 2017, 96fls. Dissertação (Mestrado em Linguística) – UFMG, Belo Horizonte, 2017.

PIERREHUMBERT, J. Phonetic diversity, statistical learning, and acquisition of phonology. Language and Speech, v. 46, n. 2-3, p. 115-154, 2003.

RIBAS, L. P. Aquisição do onset complexo no português brasileiro. 2002. Dissertação (Mestrado em Fonoaudiologia), Porto Alegre (RS): Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2002.

RICHTER, C. Alternation-sensitive phoneme learning: implications for children’s development and language change. 2021, 194fls.Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade da Pensilvânia, Filadélfia, 2021.

RINGE, D.; ESKA, J. Historical Linguistics: Toward a Twenty-First Century Reintegration. Cambridge: Cambridge University Press, 2013.

SANTOS, R. S. A aquisição da estrutura silábica. Letras de Hoje, v. 33, n. 2, 1998.

SANTOS, R.S. A aquisição do ritmo em português brasileiro. Projeto USP, 2005.

SCHULER, K. The Acquisition of Productive Rules In Child and Adult Language Learners. 2017. 152fls. Tese (Doutorado em Linguística), Georgetown University-Graduate School of Arts & Sciences, 2017.

SELKIRK, E. The syllable. In: HULST; SMITH. (Eds.). The Structure of Phonological Representations (Part II). Dordrecht Foris, 1982, p. 337-383.

SO, L. K. H.; DODD, B. Phonological Awareness Abilities of Cantonese-Speaking Children with Phonological Disorder, Asia Pacific Journal of Speech, Language and Hearing, v. 10, p. 189-204, 2007.

SWINGLEY, D.; ASLIN, R. N. Lexical neighborhoods and the word-form representations of 14-month-olds. Psychological science, v. 13, n. 5, p. 480-484, 2002.

VITEVITCH, M; LUCE, P. When words compete: Levels of processing in perception of spoken words. Psychological Science, v. 9, n. 4, p. 325–329, 1998.

YANG, C. Some consequences of the Tolerance Principle. Linguistic Approaches to Bilingualism, vol.8, n. 6, p. 665-706, 2018.

YANG, C. The price of linguistic productivity: How children learn to break the rules of language. MIT Press, 2016.

Creative Commons License

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.

Copyright (c) 2022 Cadernos de Estudos Linguísticos

Downloads

Não há dados estatísticos.