Resumo
Este estudo propôs analisar as práticas sociais, políticas e culturais do movimento estudantil paranaense, através dos documentos da Delegacia de Ordem Política e Social do Paraná (DOPS/PR), que sendo um órgão de serviço de segurança pública, com função de manter a ordem política e social, produziu documentos sobre as ações estudantis consideradas passíveis de interferir na organização social, desestabilizando-a para que, quando conveniente, pudesse neutralizá-las. Também armazenou materiais produzidos pelo próprio movimento vigiado, que eram apreendidos ou chegavam às mãos desta polícia política por outros meios. Materiais que carregam a possibilidade, mesmo que limitada, de visualização do universo dos vigilantes e dos vigiados. Através da ótica do acervo da DOPS/PR buscamos identificar a ideologia, o projeto sócio-político e cultural, as práticas de difusão, as demandas, o princípio articulatório interno e externo e a organização dos estudantes universitários paranaenses, considerados neste trabalho como um movimento social, durante o período pré-ditatorial. Articulam-se estes elementos ao cenário sócio-político do início da década de 1960, onde nos deparamos com intensas crises na estrutura econômico-social e na superestrutura ético-política que desestabilizaram não só as forças materiais como também as ideológicas, dificultando a sustentabilidade da hegemonia burguesa durante o governo federal de João Goulart (1961-1964), e ao longo do governo estadual de Ney Braga (1961-1965). Esta crise de hegemonia desencadeou dialeticamente a efervescência dos grupos populares, dos movimentos operários, de trabalhadores do campo e dos movimentos estudantis a nível nacional e estadual. A intenção em desvelar nesta pesquisa a vigilância sofrida pelo movimento estudantil paranaense contribui para elevar a importância das práticas sociais do Estado e trazer à tona um fragmento regional da luta nacional que se travou a favor das amplas reformas estruturais e da democratização das universidades, defendidas pelos estudantes, na posição de intelectuais orgânicos, através da reforma universitária, visto que a educação era tida como uma condição necessária para o desenvolvimento do país.
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