Resumo
Este artigo põe o foco no Marco Comum de Referência Europeu para as línguas (MCRE), um documento da política linguística europeia que chega ao Brasil no começo do século XXI de forma indireta: em siglas estampadas nas capas dos livros didáticos produzidos na Espanha que por esses anos atendiam de forma bastante hegemônica a aceleração das demandas pela língua, na organização dos níveis dos cursos e nas provas de certificação internacional. O objetivo é analisar a contradição que surge com a circulação do documento no Brasil, interpretando os efeitos políticos, linguísticos e culturais dessa presença produzida em e para outro espaço de enunciação (a União Europeia), onde a relação entre sujeitos, línguas e história é necessariamente outra. Realizamos este trabalho à luz do dispositivo teórico-analítico da Análise do Discurso, entendendo os instrumentos linguísticos na sua forma material: linguística e histórica, discursos onde o político e o ideológico ganham destaque.
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