Resumo
Este artigo, baseado em revisão de literatura, focaliza o caso brasileiro da formação docente, destacando limites que se impõem para o reconhecimento de sua dimensão iniciática e do potencial formativo das relações intergeracionais estabelecidas no magistério. A formação de professores é assumida como um espaço concorrencial marcado por lutas simbólicas que, conforme perspectiva bourdieusiana, permitem a transfiguração de certas relações de dominação presentes no campo educacional. Considera-se que as relações intergeracionais docentes alcançam reduzido valor em tal mercado simbólico, sobretudo em função do processo histórico de desvalorização das práticas docentes e do lugar de pouco poder que os professores brasileiros ocupam nesse espaço concorrencial. Essa fragilização simbólica dos professores se intensificou nas últimas décadas, com a emergência de uma perspectiva gerencialista de formação docente, que tem provocado uma degeneração dos processos de profissionalização do magistério. Tal contexto impõe novos desafios nos planos epistemológico, político e cultural para a produção de um modelo profissional de formação docente no qual os professores da escola ocupem lugar mais ativo na formação das novas gerações docentes. O enfrentamento desses desafios demanda, entre outras ações, o resgate do movimento de profissionalização dos professores, para o qual a universidade pode desempenhar relevante papel.
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