Resumo
A partir do ensaio “Ler e escrever”, de Louis Hay, em que se propõe olhar para os manuscritos como “lições de literatura”, este artigo se debruça sobre alguns cadernos do Fundo Hilda Hilst (Cedae/IEL) – nos quais a autora prepara a escrita da novela Rútilo nada –, a fim de perseguir algumas dessas lições. Entre outras tramas intertextuais, observa-se uma forte relação de Rútilo nada com o livro A literatura e o mal, de Georges Bataille, que, ao que tudo indica, Hilda estava lendo ao mesmo tempo que escrevia a novela. Em seguida, analisa-se a marginália do exemplar do livro de Bataille na biblioteca hilstiana para traçar a relação de alguns vestígios de leitura com a novela publicada. A conversa virtual entre escritores, observada nesses manuscritos, possibilita trazer o diálogo literário, que toma corpo nas margens da página, para o centro do procedimento escritural.
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