Resumo
Pedro Tierra transformou a luta política contra a Ditadura Militar e as consequentes torturas sofridas em necessidades para a poesia que, por sua vez, com ele, estendia o combate em sua dimensão simbólica. Nele, como em outros poetas que foram presos políticos, a articulação entre poesia e vida se coloca mais do que necessária. Este ensaio parte das dedicatórias presentes em seus livros, funcionando como uma denúncia da repressão violenta e do massacre de companheiros assassinados que, desde a prisão, Pedro Tierra testemunhava, enquanto, fora dos presídios, com a cumplicidade da grande mídia, o governo militar trabalhava para esconder seus crimes da população. Como desdobramento disso, o texto busca estabelecer uma leitura de, entre outros, poemas como “Canto para renascer”, “Marcha” e “Poema-Prólogo”, que resgatam, da ausência, da escuridão, da dor, da morte, do sepultamento, das cinzas e da mentira da história, quem lutou na resistência à ditadura, tendo sido por ela assassinado, para que a pessoa possa, enfim, retornar, pelo poema, à vida. A presença da morte e dos mortos nos vivos que viveram a morte e sobreviveram a ela para fazer os mortos renascerem traça essa aliança entre o sobrevivente e quem não voltou do assassinato sofrido. Tal tradução poética da dor da voz dos mortos que os leva a renascer, motivo pelo qual Pedro Tierra se diz poeta, é certamente uma das intervenções mais radicais de sua poesia e da poesia brasileira das últimas décadas.
Referências
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