Resumo
Este trabalho objetiva analisar o poema “Termos de comparação” de Zulmira Ribeiro Tavares, no livro de mesmo título publicado pela editora Perspectiva (1974), junto a outras obras. Trata-se de observar como foi construída a figuração do poeta, associada a uma ideia de “intelectual”, ao mal-estar e ao estranhamento. Uma vez que essa questão possui certa tradição no Brasil e na América Latina – ao menos desde Sergio Buarque de Holanda, que alude ao problema do intelectual desterrado em terra natal, em Raízes do Brasil, e de Antonio Candido, quando menciona em artigo de intervenção a “perversão da Aufklärung” no contexto (pós)colonizador latino-americano –, pode-se notar que tal figuração poética, em meados dos anos 1970, apresenta pontos de convergência e divergência com essa tradição. Diverge ou desvia e traz especificidades por se relacionar à experiência histórica da violência política vigente durante a ditadura militar brasileira (1964-1988), bem como ao contexto de acirrados debates teóricos sobre as conexões de Literatura e Linguagem com o mundo social, os quais foram estudados por Zulmira Tavares e muitas vezes incorporados em seus poemas.
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