Em consonância com o escopo da Revista Urbana, o dossiê ArteCidade convida a ampliar suas reflexões - sobre a produção do universo urbano em perspectiva histórica - enfocando desta vez produções e manifestações artísticas que florescem no meio urbano e tensionam suas ordenações.
Se Argan viu a "história da arte como história da cidade", procuramos ver aqui como a arte tem se relacionado com a cidade, tem transformado o significado de seus espaços, e tem sido suporte para narrativas as mais diversas. Seria a arte que produz narrativas de cidade ou a cidade que produz arte? Da arte intrinsecamente urbana à arte desterritorializada-reterritorializada na cidade, podemos nos esquivar, como em um jogo de corpo de capoeira, dos cânones da história da arte, já amplamente difundidos ou mesmo repetidos, buscando nos concentrar na ginga sempre mutante das mais diversas manifestações artísticas, possibilitadas, inspiradas, cultivadas, provocadas pela atmosfera citadina. Falamos de arte intimamente relacionada com a cidade, que se cria a partir de brechas e das condições de possibilidade de muitas existências, de outras estéticas. Seja na estática de um edifício ou no movimento de um corpo, se há manifestação de posicionamento artístico e/ou ênfase poética, ambos entendem da necessidade-arte da viração na cidade. Das artes faladas, cantadas e escritas às artes caladas pelo cinza da tinta - ou por uma nova norma de uso do espaço público -, este dossiê se propõe a difundir trabalhos textuais, no entanto, sem abrir mão dos referenciais imagéticos, sonoros, [olfativos, táteis] que, nas tensões das múltiplas linguagens, dialogam entre si evidenciando as interações da ArteCidade. O diálogo pode se dar ainda entre diferentes cidades, ou entre o mundo urbano e o não-urbano [sim, ele existe! existe?].
As possibilidades de diálogos e conexões são muitas e serão aqui estimuladas, assim como as dinâmicas criativas do universo da fabulação, o qual comporta todas as categorias de expressão artística. Por isso, convidamos pesquisadoras/es que se interessam pelas composições da arte urbana, considerando suas dimensões subjetivas, simbólicas e materiais.
Esperamos contribuições que façam deste um “número especial” da Revista Urbana, e que protagonizem conosco a ampliação da estrutura da Urbana para um material “imprimível”, embora construído com base e em respeito ao template da Revista; um modo de produção e divulgação artística do conhecimento. Além dos artigos para o dossiê, a Revista recebe e publica, neste número, resenhas de exposições e/ou outras mostras de arte, sem esquecer que ainda é possível publicar uma entrevista, um ensaio e a tradução de um texto estrangeiro sobre o tema. Nas resenhas, ensaios e entrevistas, em especial, pretendemos tencionar as formas tradicionais dos textos escritos e divulgados nas revistas acadêmicas. Nesses espaços abre-se a possibilidade de, artisticamente, reivindicarmos outras formas de circulação das ideias, com trabalhos inspirados pelas provocações da própria ArteCidade e que evoquem outros usos das linguagens.
Com a graça de Deus e Basquiat
Nova York, me espere que eu vou já
Picharei com dendê de vatapá
Uma psicodélica baiana
(Zeca Baleiro e Zé Ramalho, Bienal, 1999)