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"Teu nome que é meu inimigo"
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Palavras-chave

Nome
Semântica enunciativa
Análise de Discurso

Como Citar

MATTOS, Joyce. "Teu nome que é meu inimigo": o político e a partilha do sensível no nome em Romeu e Julieta, de Shakespeare. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, SP, v. 64, n. 00, p. e022018, 2022. DOI: 10.20396/cel.v64i00.8664592. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cel/article/view/8664592. Acesso em: 26 abr. 2024.

Resumo

Inscrevendo-nos em uma semântica enunciativa materialista, tendo em conta princípios da Análise de Discurso (AD) francesa, neste artigo contrastamos os sentidos de nome enunciados por uma personagem de Romeu e Julieta (1597), de Shakespeare, com a conceitualização de nome proposta por Guimarães (2002). A fim de apreender o funcionamento do nome próprio de pessoa dentro do mundo da peça, mobilizamos pressupostos materialistas sobre enunciação e sentido conforme desenvolvidos por Pêcheux ([1975] 1995), Guimarães (1989) e Orlandi (1990, [1999] 2007). Para além, buscamos pensar a nomeação em seu caráter político de partilha do sensível, na elaboração de Rancière (2000), cuja teoria em certa medida comparte, com a Semântica do Acontecimento de Guimarães, dos mesmos pressupostos materialistas sobre enunciação e sentido. O objetivo foi, a partir da combinação de tais formulações teóricas, ponderar a pergunta e a afirmação postas nos versos: “Que há num nome? Aquilo a que chamamos rosa / Teria o mesmo perfume se chamada por qualquer outro nome” – estes são dizeres da personagem Julieta, que quer o nome da personagem Romeu um rótulo vazio. Concluímos que, de um ponto de vista materialista histórico, o nome muda, sim, a rosa, já que Romeu, tendo sido nomeado Romeu (seu nome) e designado um Montéquio (seu sobrenome) ao nascer, se constituiria, inevitavelmente, parte de uma história hostil como membro de uma família inimiga à de Julieta (designada uma Capuleto). Não obstante a paixão que entorpece o olhar dos amantes, o político e a relação de confronto persistem, e o comum partilhado no sensível entre todos aqueles que participam da contenda entre as famílias tem implicações não só na esfera da intimidade dos dois jovens apaixonados, como também no âmbito da Verona shakespeariana, cidade em que se passa a peça.

https://doi.org/10.20396/cel.v64i00.8664592
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