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A pedagogia histórico-crítica e a atualidade do trabalho como princípio educativo: apontamentos para a prática revolucionária na educação popular
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Palavras-chave

Educação popular. Pedagogia histórico-crítica. Trabalho como princípio educativo

Como Citar

LIMA, Marcos Roberto. A pedagogia histórico-crítica e a atualidade do trabalho como princípio educativo: apontamentos para a prática revolucionária na educação popular. Revista HISTEDBR On-line, Campinas, SP, v. 16, n. 67, p. 53–67, 2016. DOI: 10.20396/rho.v16i67.8646091. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/histedbr/article/view/8646091. Acesso em: 30 jun. 2024.

Resumo

As reformas educacionais das últimas décadas têm se caracterizado pela instrumentalização de conceitos caros ao marxismo, ofuscando a compreensão dos conflitos sociais fundamentados nas relações sociais de produção. Dentre estas, destaca-se a categoria trabalho, que ao ser manuseada de forma indevida possibilita aos reformadores neoliberais fundamentar a formação para o mundo do trabalho na aquisição de um conjunto de habilidades e competências que garantam a empregabilidade do trabalhador. Assim, os conhecimentos técnicos e humanísticos necessários à formação omnilateral dos indivíduos são desqualificados, inviabilizando-se a compreensão das relações sociais de produção na qual estão inseridos, concomitantemente ao aperfeiçoamento do controle social. Dilui-se a percepção dos conflitos sociais em um caleidoscópio de múltiplas identidades, das quais a identidade fundamentada no antagonismo de classes é apenas mais uma. O objetivo deste artigo é desmistificar o conceito de trabalho no qual estão ancoradas as pedagogias liberais na atualidade, apontando para uma estratégia de articulação da educação às diferentes iniciativas populares de resistência[i].


[i] Não se trata de um embate travado somente com as pedagogias oficiais, posto que também no campo do marxismo esta questão permanece polêmica, alimentada pelo “ego hipertrofiado” de muitos intelectuais de esquerda Paulo Sérgio Tumolo (2001), fazendo referência direta à pedagogia histórico-crítica, critica a tese do trabalho como princípio educativo nela presente. O autor faz uma análise da categoria trabalho na principal obra de Marx O Capital, afirmando haver uma distinção entre a forma abstrata apresentada no Capítulo V, em que o trabalho é produtivo por produzir valores de uso, independentemente de suas formas, e o trabalho no processo de produção capitalista, desenvolvido a partir da Seção V A produção da mais-valia absoluta e relativa, destacando-se no Capítulo XIV a determinação do trabalho produtivo como essencialmente produtor de mais-valia (MARX, 1988, p. 101). Em texto anterior, Tumolo (1996) havia enfrentado a temática do trabalho como princípio educativo, contrapondo autores que abordaram a questão da centralidade do trabalho como categoria analítica.  A hipótese do autor é a de que no enfrentamento dos detratores da centralidade do trabalho, autores como Ricardo Antunes padeceriam da “falta de radicalidade”, devido ao fato de não incluírem a categoria de trabalho produtivo em suas análises, limitando-se às categorias trabalho concreto e trabalho abstrato (idem, p. 54). Porém, se no primeiro texto o autor se limitou ao desenvolvimento da categoria de trabalho produtivo para a sustentação da inviabilidade da tese do trabalho como principio educativo, no texto apresentado na 24º Encontro da Anped, Tumolo é um pouco mais ousado em sua crítica, questionando se devido à impossibilidade do trabalho ser um principio educativo, seja na sociedade capitalista, seja na sociedade comunista, não seria o “prazer de viver” o principio educativo, já que tendencialmente a necessidade do trabalho seria minimizada (TUMOLO, 2001, p. 256). Saviani se apoia no Capítulo VI inédito de O Capital para afirmar o trabalho educativo constitui-se em uma modalidade de trabalho não material cujo produto não se separa da produção (MARX, s/d, p. 119).

 

https://doi.org/10.20396/rho.v16i67.8646091
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