Resumo
Este trabalho analisa as formas como a mulher é apresentada em duas obras de Afrânio Peixoto (1876-1947) escritas entre 1910-1: o romance A Esfinge e o manual didático, Elementos de Medicina Legal. Os contemporâneos do médico baiano costumavam aclamar sua competência profissional e inteligência solicitando circulação e adesão do polígrafo à rede institucional constitutiva do aparato administrativo estatal, corporativo ou editorial, aos quais Afrânio selava alinhamento através de sua obra escrita. A educação da mulher, o seu lugar na sociedade e os papeis a ela cabíveis são temas que ocupam o autor e filtro de nossa investigação nas obras citadas. Formado na tradição da ciência criminológica do final do século XIX e início do XX, a relevância do presente trabalho está em refletir sobre como a literatura “peixotiana” traz à cena as teorias eugenistas e os preconceitos sociais pelas caracterizações de suas personagens, forçando-nos a repensar a genialidade atribuída ao autor e os limites entre a poética literária e a escrita científica em sua obra. Como resultado desse estudo, indicamos as imprecisões entre ciência e moral no pensamento do autor, o que acarreta manutenção de explicações organicistas justificando o lugar da mulher na sociedade.
Referências
ABRANTES, Elizabeth Sousa. A Educação da Mulher na Visão do Médico e Educador Afrânio Peixoto. Revista Outros Tempos. Volume 7, número 10, dezembro de 2010. Dossiê História e Educação.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação e da Pedagogia: Geral e Brasil. 3ª ed. Rev. AmpL. São Paulo: Moderna, 2006.
BAKHTIN, Mikhail. “Os Gêneros do Discurso”. In: Estética da Criação Verbal. 2ª. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997. (Coleção Ensino Superior).
BRITO, E. Z. C. “A Criminologia e a Construção de Gênero, Classe e Raça”. In: Salvador. I Simpósio Internacional - O Desafio da Diferença - Articulando Gênero, Raça e Classe. v.1. 2000, p.27 – 57.
BRITO, E. Z. C. “A Criminologia Informa a Literatura de Afrânio Peixoto”. In: COSTA, Cléria B.; MAGALHÃES, Nancy A. Contar História, Fazer História. Brasília: Paralelo 15, 2001.
BROCA, Brito. A Vida Literária no Brasil – 1900. 4a Ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2004.
CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul. 2005.
CHOR, Marcos Maio. “Afrânio Peixoto: notas sobre uma trajetória médica”. Revista da SBPC, n. 11, 1994, p. 75-81. Disponível em: www.sbhc.org.br/arquivo/download?ID_ARQUIVO=254. Acesso: 28/08/2012.
COUTINHO, Afrânio. “Afrânio Peixoto, Entre a Cidade e o Sertão”. In: Afrânio Peixoto Romances Completos. Rio de Janeiro: Aguilar, 1962.
Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-1930). Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz. Disponível em: http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br.
GADOTTI, Moacir. História das Ideias Pedagógicas. São Paulo: Àtica, 1999.
GONDRA, José G.; SOOMA SILVA, José Claudio. “Escritas da História:um estudo da produção de Afrânio Peixoto (1916-1947)”. IN: GONDRA, José G.; SOOMA SILVA, José Claudio (Orgs.).História da Educação na América Latina: ensinar & escrever. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2011.
GOUVEIA, Almeida. Afrânio Peixoto – Cavaleiro da Medicina Social... E de Mulheres Esfinges... Bahia: Mensageiros da Fé Ltda, 1976.
LOPES, Eliane Marta Teixeira. “Júlio Afrânio Peixoto”. In: FÁVERO, Maria de Lourdes de A.; BRITTO, Jader de M. Dicionário de Educadores do Brasil. Rio de Janeiro: UFRJ/MEC-INEP, 1999.
MATTA, Carmen. Rio de Janeiro, solo configurador da literatura nacional.Revista Rio de Janeiro, n. 10, maio-ago. 2000. p. 259-278.
MICELI, Sergio. Intelectuais à Brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
RIBEIRO, Leonídio. Afrânio Peixoto. Rio de Janeiro: Conde, 1950.
NORBERT, ELIAS. Mozart. Sociologia de um Gênio. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1995.
PEIXOTO, Afrânio. A Esfinge. 12 ed. São Paulo: Clube do Livro, 1978. 1ª. ed. 1911.
PEIXOTO, Afrânio. Elementos de Medicina Legal. v. 1, 4ª. ed. e 7ª ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1923 e 1936.
ROBALLO, Roberlayne de Oliveira Borges. Manuais de História da Educação da Coleção Atualidades Pedagógicas (1033-1977): Verba Volant, Scripta Manent. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 374 fls, 2012. Disponível em: http://www.recantodasletras.com.br/artigos/1625456. Acesso: 25/05/2014.
SANTOS, Maria Aparecida dos. Entre a Ciência e o Preconceito. Afrânio Peixoto, epilepsia e crime. Pontifícia Universidade Católica, do Rio de Janeiro, 2008. Monografia. Disponível em: http://www.historiaecultura.pro.br/cienciaepreconceito/producao/aparecidasantosmonografia.pdf. Acesso: 20/11/2008.
SEVCENKO, Nicolau. Literatura como Missão: Tensões sociais e criação cultural na
Primeira República. 2ª edição, 2ª Reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
SILVA, Maria de Lourdes. Educação, Sexo e Feminices - Representações da Mulher na Produção Literária de Mme. Chrysanthème e Afrânio Peixoto nas Primeiras Décadas do Século XX. Projeto de Pesquisa. Rio de Janeiro, 2013.
SILVA, Maria de Lourdes; MOREIRA, Helena M. A., AMANCIO, Cristiane da Fonseca. Afrânio Peixoto em A Esfinge (1911): Imagens da Educação da Mulher na Primeira República. Trabalho apresentado no III Encontro de História da Educação do Estado do Rio de Janeiro (III EHEd-RJ), na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), SET-2013.
SOIHET, Rachel. “Violência simbólica. Saberes masculinos e representações femininas”. In: Revista Estudos Feministas. Vol.5, Nº1, 1º semestre de 1997. Rio de Janeiro, Instituto de Filosofia e Ciências Sociais – IFCS/UFRJ. p. 7-29
VIEIRA, Carlos Eduardo; ROBALLO, Roberlayne de Oliveira Borges. História e História da Educação no projeto de formação de professores na década de trinta no Brasil: problematizando as Noções de Afrânio Peixoto. Anais do VI Congresso Brasileiro de História da Educação, Uberlândia, Minas Gerais, 2006. Disponível em: http://www2.faced.ufu.br/colubhe06/anais/arquivos/219RoberlayneOliveiraRoballo_e_CarlosEduardoVieira.pdf. Acesso: 10/06/2014.
A Revista HISTEDBR On-line utiliza a licença do Creative Commons (CC), preservando assim, a integridade dos artigos em ambiente de acesso aberto.