Resumo
Tanto a Antropologia como a História da Arte alargaram seus repertórios conceituais e sua abrangência geográfico-temporal, aumentando suas interfaces. A partir deste diálogo interdisciplinar, o presente artigo trata de obras e projetos que floresceram a partir de 2015, nos quais questões, visualidades e criadores indígenas adentraram o sistema das artes no Brasil. Com base em pesquisa de campo e análise de catálogos, são apresentadas as exposições A queda do céu (2015), Da Pedra Da Terra Daqui (2015), Adornos do Brasil indígena. Resistências contemporâneas (2017), Reantropofagia (2019) e Vaievem (2019), entre outras; artistas indígenas como Denilson Baniwa, Jaider Esbell, Daiara Tukano, Ibã Huni Kuin e Gustavo Caboco. Conclui-se que a arte constitui uma nova arena na luta dos povos indígenas por visibilidade, tanto em termos políticos como estéticos. Por outro lado, constata-se grande distância entre os dois universos: estabelecer conexões e traduções permanece um grande desafio.
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