Esse “troço” é arte?
PDF

Palavras-chave

Raimundo Nina Rodrigues. Arthur Ramos. Mário Barata. Religiões afro-brasileiras. Arte e cultura material.

Como Citar

CONDURU, Roberto. Esse “troço” é arte? Religiões afro-brasileiras, cultura material e crítica. MODOS: Revista de História da Arte, Campinas, SP, v. 3, n. 3, p. 98–114, 2019. DOI: 10.24978/mod.v3i3.4309. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/mod/article/view/8663182. Acesso em: 25 abr. 2024.

Resumo

O texto procura entender como artefatos fabricados e usados em práticas religiosas no Brasil vinculadas a sistemas religiosos de algumas regiões africanas foram enquadrados institucional e criticamente entre o final do século XIX e meados do século XX. Inicialmente, é pensado o processo de inserção e percepção social desses objetos a partir de confiscos feitos pela Polícia em comunidades religiosas, da divulgação pela imprensa, da constituição de coleções por diferentes tipos de instituições e indivíduos, de representações artísticas e do reconhecimento oficial como bem de valor nacional. Em seguida, são analisados quatro textos pioneiros, publicados em paralelo àquele processo por Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906), Arthur Ramos (1903-1949) e Mário Barata (1921-2007), nos quais esses autores mobilizam variados campos disciplinares e sociais para defender a dimensão artística desses artefatos. Por fim, é avaliada a persistência desses modos de enquadramento institucional e crítico desde meados do século XX aos dias de hoje.

https://doi.org/10.24978/mod.v3i3.4309
PDF

Referências

ALMEIDA, Carolina Cabral Ribeiro de. Coleção Polícia da Corte. In: SOARES, Mariza de Carvalho. Conhecendo a exposição Kumbukumbu do Museu Nacional. Rio de Janeiro: Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2016, p. 70-73.

AMARAL, Rita. A coleção etnográfica de cultura religiosa afro-brasileira do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, n. 70, p. 255-270, 2000.

BARATA. Mário. Arte negra. Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 34, p. 16-17, 17 maio 1941.

____. A escultura de origem negra no Brasil. Brasil Arquitetura Contemporânea, Rio de Janeiro, n. 9, p. 51-56, 1957.

BARROSO, Gustavo. Museu Ergológico. Anais do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro, v. 3, p. 433-453, 1942.

BATISTA, Marta Rossetti. Coleção Mário de Andrade: dança e magia – música e dança – Cotidiano. São Paulo: EDUSP, 2004.

BOIS, Yve-Alain. Kahnweiler’s Lesson. In: BOIS, Yve-Alain. Painting as Model. Cambridge: The MIT Press, 1990, p. 65-97.

BRAZIL, Etienne. O fetichismo dos negros no Brazil. Revista do Instituto Historico e Geographico Brazileiro, Rio de Janeiro, Tomo LXXIV, Parte II, p. 195-260, 1911.

BUONO, Amy. Historicity, Achronicity, and the Materiality of Cultures in Colonial Brazil. Getty Research Journal, Los Angeles, n. 7, p. 19-34, 2015.

CONDURU, Roberto (org.). Relicário multicor. A Coleção de cultos afro-brasileiros do Museu da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Centro Cultural Municipal José Bonifácio, 2008.

CONDURU, Roberto. Feitiço gráfico: a macumba de Goeldi. In: CAMPOS, Marcelo; BERBARA, Maria; CONDURU, Roberto; SIQUEIRA, Vera Beatriz (orgs.). História da Arte: Escutas. Rio de Janeiro: Art-Uerj, 2011, p. 270-284.

____. Pérolas negras, primeiros fios – experiências artísticas e culturais nos fluxos entre África e Brasil. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2013.

CORRÊA, Alexandre Fernandes. O Museu de Magia Negra no imaginário social brasileiro do começo do século XX. In: Congresso Brasileiro de Sociologia, XIII, 2007, Recife. Anais [...] Recife: UFPE, 2007.

____. Museu mefistotélico: significado cultural da Coleção de Magia Negra do Rio de Janeiro, primeiro patrimônio etnográfico do Brasil (1938). Rio de Janeiro: CNPq; UFRJ, 2006.

____. O museu mefistofélico e a distabuzação da magia: análise do tombamento do primeiro patrimônio etnográfico do Brasil. São Luís: EDUFMA, 2009.

CORRÊA, Magalhães. O sertão carioca. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1936.

CUNHA, Nóbrega da. Os mysterios da macumba. Vanguarda, [s. l. – Rio de Janeiro], [s. d.], [página desconhecida].

DECRETO Nº 847, DE 11 DE OUTUBRO DE 1890. Promulga o Código Penal. Disponível em: ˂http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1851-1899/D847.htm˃. Acesso em: 12 jun. 2009.

EINSTEIN, Carl. Negerplastik. Leipzig: Verlag der Weissen Bücher, 1915.

FÉNÉON, Félix. Iront-Ils au Louvre? Enquête sur des arts lointains. Toulouse: Toguna, 2000.

FERRETTI, Sergio. Nina Rodrigues e as religiões afro-brasileiras. Caderno de Pesquisas, São Luís, v.10, n.1, p. 19-28, jan.-jun.1999.

FIGUEIREDO, Aldrin Moura de. A cidade dos encantados: pajelanças, feitiçarias e religiões afro-brasileiras na Amazônia, 1870-1950. Belém: Edufpa, 2009.

FLAM, Jack; DEUTSCH, Miriam (eds.). Primitivism and Twentieth-Century Art. A Documentary History. Berkeley: University of California Press, 2003.

FROBENIUS, Leo. Die bildende Kunst der Afrikaner. Vienna: Selbstverlag der Anthropologischen Gesellschaft, 1897.

FRY, Roger. Negro Sculpture at the Chelsea Book Club. The Athenaeum, London, v. 94, p. 516, 16 abr. 1920.

GUILHAUME, Paul. Une esthétique nouvelle, l’art nègre. Les Arts à Paris, Paris, v.4, p. 1-4, 15 maio 1919.

LAWRENCE, Adiva. The 3rd Bienal da Bahia: Transgressive Archives. Artelogie, [s. l.], n. 9, 2016. Disponível em ˂http://journals.openedition.org/artelogie/739˃. Acesso em: 21 maio 2019.

LODY, Raul. O Negro no museu brasileiro: construindo identidades. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.

LÜHNING, Angela. Acabe com este Santo, que Pedrinho vem aí... Revista USP, São Paulo, n. 28, p. 194-220, 1995-1996.

MAGGIE, Yvonne. Medo do feitiço: relações entre magia e poder no Brasil. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1992.

MAGGIE, Yvonne; FRY, Peter. Apresentação. In: RODRIGUES, Nina. O animismo fetichista dos negros baianos. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Editora UFRJ, 2006, p. 9-21.

MAGGIE, Yvonne; RAFAEL, Ulisses. Sorcery objects under institutional tutelage: magic and power in ethnographic collections. Vibrant: Virtual Brazilian Anthropology, v. 10, n. 1, p. 305-306, 2013. Disponível em: ˂http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-43412013000100014&lng=en&nrm=iso&tlng=en˃. Acesso em: 12 maio 2015.

MARKOV, Vladimir. Iskusstvo Negrov. Petersburg: Izd. Otdela izobrazitel’nykh isktusstv Naradnogo Komissariata po proveschcheniiu, 1919.

MAROCHI, Eliete. Um jornalista 'impossível' na Belle Époque brasileira. In: DOMINGUES, Chirley; ALVES, Marcelo (orgs.). A cidade escrita: literatura, jornalismo e modernidade em João do Rio. Itajaí: Univali, 2005, p. 59-87.

MEIRELES, Cecília. Batuque, samba e macumba. Estudos de gesto e de ritmo, 1926-1934. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

NAKAMUTA, Adriana Sanajotti (org.). Hannah Levy no SPHAN: história da arte e patrimônio. Rio de Janeiro: IPHAN, 2010.

NICHILLE, Gilberto de. CCSP enfatiza “Missão de Pesquisas Folclóricas” de Mário de Andrade. Cidade de São Paulo, São Paulo, 28 set. 2015. Disponível em: ˂https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/noticias/?p=18883˃. Acesso em: 20 maio 2019.

PERET, Benjamin. Candomblê e Makumba. "Mané Kurú", "Pereké", Allan Kardec e Cia. Diário da Noite, São Paulo, página desconhecida, 24 dez. 1930.

____. Candomblê e Makumba. Os cumprimentos que me fez Nhançã. Diário da Noite, São Paulo, página desconhecida, 28 nov. 1930.

PINTO, Tiago de Oliveira Pinto. Religiöse Kultobjekte afrikanischer Sklaven in Brasilien. In: Ethnologisches Museum. Deutsche am Amazonas – Forscher oder Abenteurer?: Expeditionen in Brasilien 1800-1914. Berlin: Staatliche Museen zu Berlin – Preussischer Kulturbesitz / Lit Verlag, 2002, p. 56-65.

POLK, Patrick A.; CONDURU, Roberto; GLEDHILL, Sabrina; JOHNSON, and Randall (eds.). Axé Bahia: The Power of Art in an Afro-Brazilian Metropolis. Los Angeles: Fowler Museum UCLA, 2018.

PRICE, Sally. Paris primitive. Chicago: The University of Chicago Press, 2007.

QUERINO, Manuel. A raça africana e os seus costumes na Bahia. In: Congresso Brasileiro de Geografia, V, Salvador, 2006. Anais [...] Salvador: SGRJ, 1916.

RAFAEL, Ulisses Neves. ‘Operação Xangô’: uma etnografia da perseguição aos terreiros de Maceió em 1912. Estudos Afro-Asiáticos, Rio de Janeiro, Universidade Cândido Mendes, ano 26, n. 1, p. 61-86, 2004.

____. Xangô rezado baixo. Religião e política na primeira república. São Cristóvão: Editora UFS; Maceió: Edufal, 2012.

RAMOS, Artur. O negro brasileiro: etnografia religiosa e psicanálise. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1934.

____. O folk-lore negro do Brasil: demopsicologia e psicanálise. Rio de Janeiro, Casa do Estudante do Brasil, 1935.

____. Arte negra no Brasil. Cultura, Rio de Janeiro, Serviço de Documentação do Ministério da Educação e Saúde, n. 2, p. 189-212, jan./abr. 1949.

RIO, João do. As religiões do Rio. Paris; Rio de Janeiro: H. Garnier Livreiro Editor, 1906.

____. As religiões do Rio (1906). Rio de Janeiro: José Olympio, 2006.

RODRIGUES, Raimundo Nina. O animismo fetichista dos negros baianos. Revista Brazileira. Rio de Janeiro: Sociedade – Revista Brazileira, 1896.

____. L’annimisme fétichiste des nègres de Bahia. Essai de éthnographie religieuse et de psycologie criminelle. Salvador: Reis & Comp. Éditeurs, 1900.

____. As bellas-artes dos colonos pretos do Brasil – a esculptura. Kosmos, Revista Artistica, Scientifica e Literaria. Rio de Janeiro, ano I, n. 8, p. 11-16, agosto 1904.

____. O animismo fetichista dos negros baianos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1935.

____. O animismo fetichista dos negros baianos. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Editora UFRJ, 2006.

SANSI, Roger. Fetishes & monuments. Afro-Brazilian art and culture in the 20th century. New York: Berghan Books, 2007.

SANTOS, Edmar Ferreira. O poder do Candomblé: perseguição e resist6encia no Recôncavo da Bahia. Salvador: EDUFBA, 2009.

SILVA, Isabelle Braz Peixoto da et alii. Afro-Memória Digital. Acervo do Museu Arthur Ramos. Fortaleza: UFC, 2017. Disponível em: ˂http://culturadigital.br/arthurramos/˃. Acesso em: 21 mar. 2017.

SKOLAUDE, Mateus Silva. Identidade nacional e historicidade: o 1˚ Congresso Afro-Brasileiro de 1934. In: Encontro Estadual de História ANPUH/RS, XII, 2014, São Leopoldo. Anais [...]. São Leopoldo: Unisinos, 2014.

SOARES, Mariza de Carvalho. Conhecendo a exposição Kumbukumbu do Museu Nacional. Rio de Janeiro: Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2016.

SODRÉ, Jaime. Nina Rodrigues e a arte africana na Bahia. Gazeta Médica da Bahia, Salvador, n. 76, Suplemento 2, p. 29-34, 2006.

SPHAN. Livro arqueológico, etnográfico e paisagístico. Rio de Janeiro: SPHAN, 1938. ˂http://www.iphan.gov.br/ans/inicial.htm˃ Acesso em: 06 maio 2008.

SOUSA JÚNIOR, Vilson Caetano de. Corujebó: Candomblé e Polícia de Costumes (1938-1976). Salvador: EDUFBA, 2018.

TAVARES, Odorico. A escultura afro-brasileira na Bahia. O Cruzeiro, Rio de Janeiro, 64, p. 59-62, 14 abr. 1951.

TORRES, Heloisa Alberto. Contribuição para o estudo da proteção ao material arqueológico e etnográfico do Brasil. Revista do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, SPHAN, n. 1, p. 9-30, 1937.

VALLE, Arthur. Um Mefistófeles afro-brasileiro? Considerações sobre uma extinta imagem de ‘Exu’ do Museu da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro. 19&20, Rio de Janeiro, v. XI, n. 1, jan./jun. 2016. Disponível em: ˂http://www.dezenovevinte.net/obras/exu.htm˃. Acesso em: 15 maio 2019.

____. No mundo dos feitiços: cultura material religiosa afro-brasileira em artigos na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro, 1904-1905. Revista Nós. Cultura, Estética e Linguagens, v. 2, n. 2, p. 59-80, 2017.

____. Arte sacra afro-brasileira na imprensa. Alguns registros pioneiros, 1904 1932. 19&20, Rio de Janeiro, v. XIII, n. 1, jan./jun. 2018. Disponível em ˂http://www.dezenovevinte.net/obras/av_asab.htm˃. Acesso em: 15 maio 2019.

____. O sagrado em exílio: objetos sacros afrobrasileiros em degredos institucionais. In: NETO, Maria João; MALTA, Marize. (orgs.). Coleções de Arte em Portugal e Brasil nos séculos XIX e XX - Coleções em Exílio. Lisboa: Casal de Cambra, 2018, p. 263-278.

____. Transe ameaçado: cultura visual religiosa afro-brasileira e repressão policial durante as primeiras décadas do século XX. In: Anais do XXXVII Colóquio do Comitê Brasileiro de História da Arte: História da Arte em Transe. Salvador: Comitê Brasileiro de História da Arte, 2018, p. 196-206.

____. “O poder supremo do Caboclo Cubatão:” Cultura visual religiosa afro-brasileira e repressão policial no Rio de Janeiro em 1918. 19&20, Rio de Janeiro, v. XIV, n. 1, jan./jun. 2019. Disponível em ˂http://www.dezenovevinte.net/obras/caboclo_cubatao.htm˃. Acesso em: 15 maio 2019.

VASCONCELLOS, Christianne Silva. O uso de fotografias de africanos no estudo etnográfico de Manuel Querino. Sankofa. Revista de História da África e de Estudos da Diáspora Africana, n. 4, p. 88-111, dez. 2009. Disponível em: ˂http://sites.google.com/site/revistasankofa/sankofa4˃. Acesso em: 12 maio 2018.

ZAYAS, Marius de. African Negro Art: Its Influence in Modern Art. New York: Modern Gallery, 1916.

Creative Commons License

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.

Copyright (c) 2019 MODOS

Downloads

Não há dados estatísticos.