Banner Portal
Quando ele fica bravo, o português sai direitinho; fora disso a gente não entende nada: o contexto multilíngue da surdez e o (re)conhecimento das línguas no seu entorno
Remoto

Palavras-chave

Língua materna. Segunda língua. Língua de sinais e surdez

Como Citar

SILVA, Ivani Rodrigues. Quando ele fica bravo, o português sai direitinho; fora disso a gente não entende nada: o contexto multilíngue da surdez e o (re)conhecimento das línguas no seu entorno. Trabalhos em Linguística Aplicada, Campinas, SP, v. 47, n. 2, p. 393–407, 2016. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/tla/article/view/8645171. Acesso em: 30 abr. 2024.

Resumo

O presente artigo tem por objetivo fazer uma reflexão sobre as línguas que habitam o entorno da criança surda filhas de pais ouvintes com o intuito de lançar luz à(s) língua(s) que nasce(m) nesse contexto pela necessidade que mães ouvintes e crianças surdas têm de se fazer entender na ausência de uma língua convencional (seja o português da comunidade majoritária ou a língua de sinais que é utilizada pela comunidade surda adulta). A motivação deste texto vem do desconforto que sinto em relação à noção de língua que permeia a área da surdez, a qual não permite que sejam consideradas como legítimas as diferentes as línguas que circulam nesse espaço, como uma alternativa de linguagem. Tal noção está ancorada em uma visão de língua homogênea e idealmente concebida (Cesar e Cavalcanti, 2007) e na dicotomização dessas línguas em apenas língua oral e língua de sinais pode invalidar ou colocar em desvantagem outras linguagens que nascem nesse espaço pela própria necessidade que têm pais ouvintes de se comunicarem com seus filhos surdos.

ABSTRACT:

This article presents a reflection upon the languages that surround deaf children of hearing parents. Its aim is to shed light on the languages that are created in this context, because of the need hearing mothers and deaf children have of understanding each other in the absence of a conventional language (be it Portuguese, spoken by the majority of the community, or be it sign language, which is spoken by the deaf adult community). The motivation for this reflection comes from the discomfort I feel about the notion of language commonly used when discussing deafness. This notion is anchored in a definition of language as homogeneous and ideally conceived (Cesar e Cavalcanti, 2007). Such conceptions do not consider the different languages that exist in this context to be legitimate and therefore to be a language alternative. The classification of these languages exclusively into either oral language or sign language can invalidate or bring disadvantages to the other languages that are constituted in this context through the very need of hearing parents to communicate with their deaf children.

Keywords: first language; second language; sign language and deafness

Remoto

Referências

BEHARES, L. E. (1997). Aquisição de Linguagem e Interações Mãe-Ouvinte – criança surda. Cadernos de Estudos Lingüísticos, 33, IEL/Unicamp.

BEHARES, L.E. & PELUSO, L. (1997). A Língua Materna dos Surdos. Revista Espaço. INES. Rio de Janeiro.

CAVALCANTI, M. C. (1999). Estudos sobre Educação Bilíngüe e Escolarização em Contextos de minorias no Brasil. D.E.L.T.A., v. 15, p. 385-418.

CAVALCANTI, M. C.; SILVA, I. R. (2007). “Já que ele não fala, podia ao menos escrever...” O Grafocentrismo Naturalizado que Insiste em Normalizar o Surdo. In: Lingüística Aplicada, Suas Faces e Interfaces, Campinas: Mercado de Letras, p. 219-242.

CÉSAR, A. L.; CAVALCANTI, M. C. (2007). Do Singular para o Multifacetado: o conceito de língua como caleidoscópio. In: Cavalcanti, M. C.; Bortoni-Ricardo, S. M. (orgs.) (2007) Transculturalidade, Linguagem e Educação. Campinas: Mercado de Letras, p. 45-66.

FELIPE, T. A. (1989) Bilingüismo e Surdez. In: Trabalhos em Lingüística Aplicada (14), p. 101-112.

_______. (2004). Educação para Surdos, para Todos: Marcos Teóricos e Mudanças de Paradigmas.

Revista da FENEIS. p. 15-22.

FERREIRA-BRITO, L. (1989). Necessidade Psico-Social de Um Bilingüismo para o Surdo. In: Trabalhos em Lingüística Aplicada (14), p. 89-100.

_______. (1993). Integração Social e Educação de Surdos. Rio de Janeiro: Babel.

GESSER, A. (2006). “Um olho no professor surdo e outro na caneta”: ouvintes aprendendo a Língua Brasileira de Sinais. Tese de doutorado inédita, Campinas: Unicamp.

GÓES, M. C. R. (1996) Linguagem, surdez e educação. Campinas: Autores Associados.

GÓES, M.C.R. (2000) Com quem as Crianças Surdas Dialogam em Sinais? In: Lacerda, C. B. F. & Góes, M C.R. Surdez, Processos Educativos e Subjetividade. São Paulo: Lovise, p. 29-49.

LANE, H. A Máscara da Benevolência – A Comunidade Surda Amordaçada. Lisboa: Horizontes Pedagógicos, 1992.

LIMA, M. S. C. Surdez, Bilingüismo e Inclusão: Entre o Dito, o Pretendido e o Feito. Tese de Doutorado Inédita. Campinas. Unicamp.

MAHER, T. J. (1996) Sendo Professor Sendo Índio: Questões de Língua(gem) e Identidade. Tese de Doutorado Inédita. Campinas: Unicamp.

MAKONI, S.; MEINHOF, U. (2006). Lingüística Aplicada na África: Desconstruindo a Noção de “Língua”.

In: MOITA-LOPES, L. P. Por uma lingüística Aplicada Indisciplinar. São Paulo: Editora Parábola, p.191-213.

MARTIN-JONES, M.; ROMAINE, S. (1986). Semilingualism: A Half Baked Theory of Communicative Competence. In: Applied Ling. 1986, v. 7, p.27-38.

MOURA. M. C. (2000). O Surdo: caminhos para uma nova identidade. Rio de Janeiro: Revinter.

PEREIRA-CASTRO, M.F (2003). Sobre o (im)possível esquecimento da língua materna. Texto Mimeografado.

QUADROS, R. M. (1997). Educação de surdos: a aquisição da Linguagem. Porto Alegre: Artmed.

QUADROS, R. M.; KARNOPP, L. B. (2004) Língua de Sinais Brasileira: Estudos Lingüísticos. Porto Alegre: Artmed.

MORAES, M.R. S. (2001). Materna/Estrangeira: O que Freud fez da Língua. Trabalhos em Lingüística Aplicada (38) 47-58, Jul./Dez.. Campinas, p. 47-58.

SACKS, O. (1990). Vendo Vozes – Uma Jornada pelo Mundo dos Surdos. Editora Imago.

SANTANA, A. P.; BERGAMO, A. (2005). Cultura e Identidade Surdas: Encruzilhada de Lutas Sociais e Teóricas. Educação e Sociedade, vol. 26, n. 91, p. 565-582.

SERRANI, S. M. (1997) A linguagem na pesquisa sociocultural: um estudo da repetição da discursividade.

Campinas, SP. Editora da Unicamp.

SILVA, I. R. (2005). As Representações do Surdo na Escola e na Família: Entre a (In)visibilização da Diferença e da ‘Deficiência. Tese de Doutorado Inédita. Campinas: Unicamp.

TERVOORT, R.T. (1961) Esoteric Symbolism in the Communication Behavior of Young Deaf Children.

American Annals of the Deaf, 106:436-80.

WILBUR, R. (2000). The Use of ASL to Support the Development of English and Literacy. Journal of Deaf Studies and Deaf Education, v. 5, n. 1, p. 81-104.

O periódico Trabalhos em Linguística Aplicada utiliza a licença do Creative Commons (CC), preservando assim, a integridade dos artigos em ambiente de acesso aberto, em que:

  • A publicação se reserva o direito de efetuar, nos originais, alterações de ordem normativa, ortográfica e gramatical, com vistas a manter o padrão culto da língua, respeitando, porém, o estilo dos autores;
  • Os originais não serão devolvidos aos autores;
  • Os autores mantêm os direitos totais sobre seus trabalhos publicados na Trabalhos de Linguística Aplicada, ficando sua reimpressão total ou parcial, depósito ou republicação sujeita à indicação de primeira publicação na revista, por meio da licença CC-BY;
  • Deve ser consignada a fonte de publicação original;
  • As opiniões emitidas pelos autores dos artigos são de sua exclusiva responsabilidade.

Downloads

Não há dados estatísticos.